Perguntas Decisivas


Você talvez nem perceba, mas nós passamos boa parte das nossas vidas respondendo perguntas decisivas. São perguntas aparentemente simples, mas que por trás delas escondem todo um futuro a ser concretizado. Perguntas que quando são feitas paralisam a sua respiração e deixam seu coração palpitando. Você tem que responder e tem que ser uma boa resposta, porque sua vida será definida com aquelas palavras.

Começamos a responder perguntas decisivas logo que começamos a falar. Não falo aqui daquela clássica sobre suas namoradas ou, pior ainda, se você gosta mais do seu pai e da sua mãe. Não deixa de ser uma pergunta decisiva, porque você estará ali, em um segundo, definindo sua relação familiar por toda a eternidade e quebrando o coração de um dos dois responsáveis por você ser quem você é. Pessoas que fazem essas perguntas para crianças de seis anos deveriam ser presas.

A primeira pergunta decisiva de nossas vidas é: “o que você vai ser quando crescer”. Veja que você é uma criança de poucos anos, não conhece mais do que meia dúzia de profissões, que provavelmente são a do seu pai, médico e jogador de futebol. Você não vai ter muita alternativa naquele momento e logo dirá que quer ser médico, ou igual ao seu pai e vai criar aquela expectativa na família. Mais tarde, quando você se tornar jornalista, todos lembrarão com pesar que quando criança você queria ser médico, mas alguma coisa deu errado. Mas, veja bem. Ninguém diria que quer ser engenheiro agrimensor com seis anos.

Você vai crescendo e passando pelas perguntas sobre namoradas, se gosta do colégio, até que o vestibular se aproxima. Agora é sério. Você tem que escolher uma profissão. É sempre um temor, porque geralmente você não tem muita certeza sobre o que fazer e teme que será contrariado ao informar sua opção preliminar. Que tentarão te demover de qualquer jeito, quem sabe você não faz logo Direito.

A vida passa na faculdade e você passa a ter que responder o que vai fazer da vida, que é provavelmente a pergunta mais difícil de todas. Você arruma um emprego – ou não, como é o caso de aproximadamente 5% da população, mas as perguntas não terminam nunca. Você gosta do seu emprego, é isso o que você quer fazer da vida? As pessoas não param de te perguntar.

Mas é claro que o campo profissional não é o único alvo de perguntas decisivas e repetitivas. O campo pessoal também. Se antes te perguntavam das namoradas, um dia você arruma uma - talvez arrume outras, mas acho que isso deve  dar um trabalho danado - e logo o questionamento passa a ser sobre quando é que você vai casar. As perguntas começam logo ali, quando você completa uns três meses de relacionamento e só terminam no dia do casamento. Ou no fim do relacionamento. Ou com a morte prematura de uma parte do casal.

Ainda não cheguei lá, mas tenho certeza que após o casamento as perguntas decisivas não acabam. Você começará a ser questionado sobre os filhos. Sim, o primeiro filho, depois o segundo. Talvez quando você complete um time de basquete de filhos, o assunto mude e passe a ser a educação das crianças, como elas vão, o que elas serão quando crescer, se elas gostam mais de você ou da mãe. A vida, afinal, é um ciclo. Não acredito que exista uma data, um momento em que as pessoas parem de te fazer perguntas decisivas. Barack Obama, Fidel Castro, todos devem receber perguntas repetitivas o tempo inteiro, nem que seja sobre a saúde, a aposentadoria. Você só deixará de ser questionado quando morrer, mas mesmo assim algumas pessoas te perguntarão porquê.

Espero que um dia, daqui a muitos anos, eu volte a escrever por aqui sobre as perguntas decisivas. Contarei para os fiéis leitores de sempre e para as próximas gerações, quais são os questionamentos que acompanham o cidadão até o fim do seu próprio tempo, porque, até agora, eu ainda estou na pergunta do casamento. Quer dizer, agora não mais, tudo bem, Ana Rosa?

Comentários

Unknown disse…
De fato esse post "mudou a minha vida".
Ana Rosa.