Almeida, cadê você?



Observe essa propaganda do Outback¹, inversamente proporciona a fama da sua costela barbecue. Eu sei que ela também te incomoda e você não sabe o motivo exato. Talvez seja pela narração ruim, pela temática medíocre ou porque a utilização de termos na internet na vida real é irritante. Talvez é pelo fato de que este comercial brinca com uma das situações mais constrangedoras que o ser humano pode viver, que é ser surpreendido pelo chefe em um lugar no qual você não deveria estar. (Outra propaganda dessa série mostrava o mesmo personagem num encontro secreto com sua nova namorada e todos nós sabemos como isso é ruim).

Mas o que realmente incomoda é o fato de o cidadão pego no flagra ser chamado de Almeida. Puxe na sua memória e você verá que conhece várias pessoas com sobrenome Almeida e nenhuma delas é conhecida desse jeito. Você estudou com o Thiago e com José, trabalha com o João, Alberto, Roberto, Ernesto e Florisvaldo. Mas, com o Almeida nunca.

Não sei por qual motivo em vários comerciais e na teledramaturgia, escritores gostam de criar personagens conhecidos pelos seus sobrenomes. Ao lado do Almeida, nós temos o Cardoso, o Fonseca, o Tavares e o Lacerda. Na vida real eles não existem.

Nós vivemos em um país em que até os presidentes são conhecidos pelo primeiro nome. Tivemos o Getúlio, o Juscelino, o Jânio, a Dilma e o Itamar. Sobra espaço até para os apelidos, como Jango, FHC e Lula. Não é por acaso que o único presidente civil eleito, conhecido pelo sobrenome, sofreu um processo de impeachment. As pessoas não deviam se sentir próximas dele.
Se você procurar por "Almeida" no Google, terá esta cidade de formato exótico como principal resultado

Não somos iguais aos Estados Unidos com seus Clinton, Obama e Bush. Nossa seleção jogou a última Copa do Mundo com Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar, Neymar, Hulk e Fred e não com Espíndola, Alves, Silva, Marinho, Vieira, Dias, Maciel, Emboaba, Santos, Souza e Guedes.

Sim, existe quem seja conhecido pelo sobrenome, mas geralmente são pessoas com sobrenomes diferentes, tipo o Gressana - e mesmo assim. Jamais, e eu disse jamais, uma pessoa será conhecida como Almeida em um ambiente de trabalho, ou em um ambiente familiar. Só no exército, é claro, em que todo mundo é conhecido pela patente e pelo sobrenome.

Agora, porque os comerciais e a teledramaturgia insistem em chamar pessoas de Almeida, Cardoso e Pereira? Falta de criatividade, eu chutaria. Quem já teve que inventar um nome de um personagem, mesmo que para a redação de terceira série da escola, sabe como é difícil. Um nome ruim pode afundar um personagem brilhante e a própria história.

Quando você chama o cara de um sobrenome genérico, o problema é afastado temporariamente. O cara é o Almeida é todo mundo sabe que aquilo ali é uma brincadeira. Mas, era melhor chamar o cara de Carlos, Roberto, Afonso, qualquer coisa. Almeida não.

¹O CH3 reforça aqui que não recebeu nenhum dinheiro para exibir esta propaganda. Reinteramos aqui que de maneira nenhuma nossos membros estão sendo remunerados e que de forma alguma estamos todos agora comendo bifes, costelas barbecue e cebola.

Comentários

Gressana disse…
A culpa é dos publicitários, eles vivem fora do mundo real e acham que as pessoas usam termos como "irado" e "radical". Naturalmente não sabem que as pessoas normais não se chamam sobrenomes.