Intervenção Urbana

Intervenção urbana é o nome dado a todo e qualquer objeto estranho que possa ser chamado de arte, localizado na região central de uma grande cidade. Geralmente são frutos da atuação de um coletivo de arte ou de um cara famoso e anônimo, tipo Bansky. A intervenção urbana transporta para as ruas aquele conceito do Cinema Novo, uma ideia na mão e uma mente na cabeça, ou algo parecido com isso. Só que, no caso, na mão os interventores carregam o instrumento necessário para sua arte.

O Flash Mob talvez tenham sido o precursor desse conceito de intervenção urbana. Lembro-me que o ano era 2003 e um amigo meu me falou sobre esse assunto, mas até hoje ele ainda é tratado como novidade na grande mídia e no espaço acadêmico. Várias pessoas se juntam em um único lugar e realizam o mesmo gesto. Deve ser uma sensação bacana para quem participa.

Bigodes desenhados nos postes, caras desenhadas em volta de bocas de lobo, estátuas psicodélicas da turma da Mônica na Avenida Paulista, bonecos gigantes boiando no lago do Paranoá, projeções holográficas em uma parede branca com ofensas a honra de um parlamentar, todas essas ações entram no rol das intervenções urbanas.

Há uma pequena linha que separa a intervenção urbana do vandalismo. Tudo depende da sua posição político, ideológica, social, econômica, filosófica, partidária. Se você é um tucano privatizador ou um petralha mensaleiro. Se você é um assassino de animais ou um vegetariano bunda-mole.

Veja o caso das pirocas desenhadas nas portas de banheiro de todo o mundo. Em colégios, faculdades, aeroportos, rodoviárias, repartições públicas, casas de show, não há porta de sanitário que escape dos desenhos de órgãos sexuais masculinos. Desenhos das mais variadas espécies, tamanhos, com os mais diferentes detalhes anatômicos. Há caralhos coloridos e há aqueles que têm asas, de acordo com a imaginação do artista.

Pois bem. Essas manjolas de banheiro são intervenções urbanas ou vandalismo? De acordo com o que eu disse, depende da sua posição político-ideológico-partidária. Veja os casos do polêmicos rolézinhos. Havia quem considerasse-os como manifestação intervencio-urbanística, e há quem defenda que os seus praticantes deveriam ser amordaçados e queimados vivos. Ocorre o mesmo como os pintos de lavabo. Isso sem contar as frases. "Amor livre é amor sem medo" pode ser poesia num muro velho, mas uma burrice na porta do banheiro.

Depende também da fama dos intervencionistas. O já citado Bansky pode, por exemplo, pode desenhar um enorme jogo da velha num muro podre de Bariloche que logo será considerado um gênio. Aqueles grafiteiros Gêmeos, que cagaram no avião que transportará a seleção brasileira durante a Copa, podem cagar fezes gêmeas no meio da Avenida Paulista que serão tratados como os Gêmeos Gênios. Os críticos olharão aqueles dois cagalhões no meio da avenida mais movimentada do país e falarão de como eles transformam o cotidiano, o cheiro repulsivo nos mostra as coisas que não queremos ver e que arte é isso, arte é mostrar o desconhecido para o público. Arte é chocar e chocar é arte e vice e versa.

Agora tente você soltar um barro em qualquer via pública e correrá o risco de ser estuprado pelos moradores, denunciado a polícia, preso, estuprado pelos policiais, estuprado pelos médicos legistas que farão o exame de corpo e delito, levado ao pronto socorro e estuprado pelos médicos e enfermeiros, morrerá e será estuprado pelo agente funerário, maquiador de defunto e levará uma última curra do coveiro.

Portanto, caro cidadão, pense duas vezes antes de desenhar um zíper no meio da sua rua, pintar um olho no muro da casa do vizinho ou soltar um barco cheio de bonecas infláveis na baia de Guanabara. Você precisa se tornar conhecido para que suas intervenções deixem de ser vandalismo.

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