Eu vim fazer uma provocação

O auditório do hotel está lotado. Em poucos instantes irá começar o 1º Encontro Estadual de Empregadores da Indústria Têxtil. Autoridades estão presentes e o dispositivo de honra será montado, com o governador, o prefeito, dois deputados, um vereador e o presidente do sindicato e da Federação das Indústrias. Todos irão fazer seus cumprimentos protocolares e depois um economista será chamado ao palco para a primeira palestra.
Sabem o que ele veio fazer? Uma provocação.

O economista é respeitado. Formado por uma universidade importante, pós-graduado na melhor do Brasil e doutor por uma do exterior. Ele vai falar sobre o desenvolvimento do Brasil, os desafios do empreendedorismo e o nome da sua palestra resume esse assunto de maneira vazia. Por ano, ele faz mais de 100 dessas palestras em encontros de várias categorias em todas as regiões do Brasil. Sempre o mesmo discurso, com uma ou outra piadinha cotidiana para descontrair o ambiente. Um stand-up da economia.

Em cima do palco, com paletó sem gravata, o economista segura o microfone em uma mão e uma caneta laser na outra. O Power Point está no ponto e ele afirma que não vai se estender muito e garante que não gosta de muitas formalidades. “O que eu pretendo aqui, é fazer uma breve provocação”.

Pausa. Se eu falasse para alguém que faria uma breve provocação, provavelmente diria algo do tipo.
- Aqui só tem viado!
- Sua mãe não é homem!
- Seu arrombado!
- Babaca! Chupador de rola!
- Duvido que alguém aqui jogue uma pedra naquela lâmpada? Ninguém? Ninguém? Heim? Ahhhh, bichinhas, tão com medo? Vão chorar com a mamãe?!

O que Bernardinho veio fazer?
Mas eu não sou um economista e muito menos faço palestras para os mais diferentes segmentos trabalhistas nos quatro cantos deste país. Portanto, o que eu considero como breve provocação, não é o que esses palestrantes entendem como breve provocação. Para eles, não tem nada disso de xingar e sair correndo.

Quando um economista vai provocar alguém brevemente, saiba que ele irá demorar pelo menos vinte minutos e que nesse tempo nenhuma mãe será ofendida e nenhum ânus será blasfemado. Ele vai falar sobre dados econômicos, mostrar como alguma coisa está errada nisso tudo e deixar no ar aquela pergunta de “o que nós podemos fazer para mudar isso?”. Ou melhor, “o que vocês vão fazer para mudar isso?”.

Para que fosse uma provocação de verdade, ele deveria pelo menos dizer “e aí, seus bundas moles, vão ficar sentados nessas cadeiras sem fazer nada? O mundo espera por vocês seus mariquinhas” e logo depois começar a marchar pela sala e chamar o público de “pelotão”. Mas nem isso acontece.

Quanto a resposta para a tal provocação, o que é que as pessoas vão fazer para mudar isso, a resposta é nada. Claro que ninguém vai fazer nada. Se eles quisessem fazer alguma coisa para mudar o mundo, o público estaria realmente fazendo alguma coisa, ao invés de ficar de ficar sentado num auditório contando o tempo para a breve provocação terminar, para que os salgadinhos finalmente sejam servidos, quem sabe um jantar, com bebida liberada e um bolinho vagabundo de sobremesa.

Termino este post com uma breve provocação. Nessa porra aqui só tem viado e jogador de futebol.

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