Questões Turísticas

Certo tempo atrás, afirmei neste blog que todas as cidades são turísticas. Sempre existirá alguma coisa minimamente interessante em qualquer cidade do mundo. Pode ser um mau turismo é verdade, mas, é turismo. Existem cidades pouco turísticas e aquelas que são ridiculamente turísticas.

Explico; Paraty é uma cidade turística com suas casas de 300 anos meticulosamente cuidadas para atrair turistas. Já Gramado, é uma cidade ridiculamente turística. A atração da cidade gaúcha são suas casas impecavelmente cuidadas em estilo colonial alemão. Porque Paraty é turística e Gramado é ridiculamente turística?  Porque Paraty é desse jeito pelo fato de que um dia as pessoas viveram nessas casas e elas sobreviveram a ação do tempo. Já Gramado surgiu da vontade de alguém criar uma atração turística no meio da serra e ganhar dinheiro com isso. Enfim, o turismo é forte nas duas cidades e logo elas são caras. Mas Gramado, como não poderia deixar de ser, chega a ser ridiculamente cara em alguns momentos.

Uma coisa que toda cidade tem é um centro histórico. Bem, nem toda cidade, principalmente em Mato Grosso onde a imensa maioria delas foi fundada depois do meu nascimento. Mas, qualquer cidade com mais de 50 anos tem um centro histórico, com uma igrejinha, um prédio bonito dos Correios e algumas casinhas que viraram restaurantes (caros).

Todos esses centros históricos tem algo em comum: todos ficam em ladeiras. Sim, percebam isso. Não existe um centro histórico de cidade localizado numa planície. São inúmeras ladeiras que desafiam as canelas dos turistas. Veja todas as cidades mineiras. Mesmos nas cidades localizadas na beira da praia, a fundação da cidade foi em uma região de ladeiras. Veja Salvador, onde as próprias ladeiras são atrações. No caso de São José, em Santa Catarina, a cidade tem apenas meia dúzia de ladeiras. O centro histórico da cidade está justamente entre elas.

Talvez as ladeiras ajudassem a evitar invasões estrangeiras, de índios ou de onças. O mais provável é que, realmente, do alto da ladeira, eles pudessem enxergar os inimigos. Mas, não deixa de ser curioso. Talvez, as ladeiras servissem para que eles pudessem construir igrejas bem altas.

Igrejas, elementos altamente turísticos, também tem outra curiosidade. Onde há uma igreja nesses centros históricos, logo há outra, como se fala sobre baratas. Talvez, desde aquela época já existisse a concorrência pelo mercado. Os Franciscanos, os Beneditinos, os Carmelitas, os Jesuítas precisavam brigar pela sua clientela. Você consegue percorrer todas as igrejas de cidades históricas a pé. Na já citada e minúscula Paraty são quatro. Em João Pessoa, duas igrejas chegam a ficar lado-a-lado.

Quando você anda por uma serra, seja ela no Rio de Janeiro, Pernambuco ou Santa Catarina, você encontra inúmeras nascentes de água que brotam das pedras. Boa para beber, essa água chama turistas e também imagens de santo, principalmente de Nossa Senhora. Onde há uma nascente, há uma imagem da mãe de Deus. Em grutas, é pior ainda. Não há gruta que não tenha uma imagem de santo e algumas flores espalhadas em volta e minha laicidade sobre o assunto me impede de elaborar qualquer teoria.

Toda cidade também tem alguns museus, sendo que aqueles dedicados aos fundadores da cidade são os mais comuns. Geralmente ele fica em uma casa de um antigo colono que desempenhou importante função na história da humanidade. São exibidas inúmeras fotografias e roupas antigas de primeiras comunhões. Alguns itens são tão dispensáveis, que você seria capaz de imaginar se não poderia abrir um museu com as quinquilharias acumuladas pelas antigas gerações da sua família.

Pois esses museus têm uma característica: há uma boa chance de que eles estejam fechados. Museus de cidade pequena tem o péssimo hábito de sempre estarem fechados para reforma, ou por doença do proprietário ou simplesmente porque eles funcionam em horários ridículos, nos quais ninguém tem disponibilidade para turistar. Já os museus de cidades ridiculamente turísticas, costumam a ser bem caros e não ter nada de interessante para mostrar.

Em breve, quem sabe, teremos mais questões turísticas para discutir.

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