O Nome da Rua

Andando pelas ruas da sua cidade, você passará por uma série de nomes. Figuras históricas, anônimos famosos, árvores, cidades, países, palavras completamente aleatórias. As ruas costumam a ser nomeadas por critérios que não são assim tão lógicos. No centro antigo, elas costumam a homenagear pessoas, enquanto que nos bairros, o critério fica por conta de quem fez o loteamento.

A figura mais onipresente no mundo dos nomes das ruas é Getúlio Vargas. O ex-ditador também é de longe o presidente que mais tem ruas em seu poder. O Juscelino tem bem menos ruas em sua homenagem, Jânio Quadros não deve ter nenhuma e eu vejo um grande potencial no futuro de Tancredo Neves. De qualquer forma, os presidenciáveis prediletos são aqueles que estiveram no poder antes do Estado Novo.

Os nomes regionais costumam a soar bem estranhos para quem não é da cidade. Aqui em Cuiabá nós temos Antônio Maria, Barão de Melgaço, Isaac Povoas, Pedro Celestino e toda a família Correa da Costa. Também temos a rua Cândido Mariano e a rua Marechal Rondon, mas, curiosamente, os dois são a mesma pessoa. No Rio Grande do Sul, chama a atenção a existência de um logradouro homenageando Borges de Medeiros em todas as cidades.

Mas é dentro dos bairros que os critérios são realmente legais. O cidadão que fez o loteamento resolve que todas as ruas irão homenagear um determinado país, ou um determinado braço da biologia. O meu, por exemplo, homenageia árvores e flores, por mais que essas árvores e flores não existam na maioria das ruas.

No glorioso Jardim Califórnia, todas as ruas homenageiam cidades e localidades norte-americanas. Como a quilométrica rua Hollywood, a Rua Sacramento (que começa onde termina), mas, ali no canto existe uma rua chamada Razão e Lealdade. Poderia ser uma música do CPM22 ou da Rosana. Porque esse nome ali no meio? Não sei. Só sei que Razão e Lealdade é o nome de rua mais brega do mundo, atrás de uma possível rua Fé, Foco e Força.

Já o criador do bairro “Praeiro”, decidiu que todas as ruas do bairro começariam com P. Palmeiras, Paquetá, Panorama, Panasco. Panasco? O que é isso? Um tempero novo do McDonalds?

No Jardim Leblon, o bairro de Pai Jorginho de Ogum, os pioneiros abusaram da criatividade e resolveram não seguir nenhum padrão lógico. Há homenagens para personagens (Couto Magalhães, Benedito Camargo), datas aleatórias (3 de janeiro, 4 de janeiro e 8 de Junho), nomes genéricos (Rua Nação, Rua Bela Vista) e tolas ruas numerais.

Aliás, por mais que as ruas tenham nomes exóticos, é melhor morar em uma rua com nome de pássaro do que em uma rua numeral. Nada mais broxante do que morar numa mera “Rua 6, na Quadra 8”. Ou nas igualmente broxantes ruas alfabéticas. Veja o caso de Brasília em que todas as ruas tem nomes de códigos genéticos e de prefixo de aeronave. É uma confusão danada.

Mas, nem tudo vale no mundo dos nomes de rua. Alguns assuntos, aparentemente são tabus. Fetiches é um deles. Você jamais viu um bairro com a rua da Podolatria, ao lado da rua do Loonerismo. Mas tudo bem, até entendo por que.

Agora, pássaro pode, cachorro não pode. Para cada Rua Sabiá ou João de Barro, jamais existirá uma rua Poodle e outra Pitbull. Cidades africanas também não são bem aceitas, assim como interpretes da música brasileira, ao contrário dos poetas. Flores são populares, mas vegetais leguminosos não. Há uma cadeia de prioridades no mundo dos nomes da ruas.

(Agradecimentos ao leitor Luan Germano, que, incomodado com a rua do lado da sua casa que inexplicavelmente se chama “Rua Cruzeiro”, motivou esse post).

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