Conferência Mundial de Atalho

Taxistas, mototaxistas, taxidermistas e motoristas de repartição pública de todo o mundo, se reuniram semana passada em Oslo, na Noruega, para a 1ª Conferência Mundial de Atalho. O objetivo do encontro foi esquematizar o processo de obtenção de atalhos e também discutir questões relativas ao futuro dos atalhistas no mundo. O encontro marcou os primeiros passos para a regulamentação da atividade.

Atalho pra chegar no palco



Foi um consenso geral entre todos os presentes que os “atalhistas” estão desprestigiados na sociedade atual, por inúmeras razões. O primeiro é o advento do Google Maps, que possibilitou que qualquer pessoa com um computador, tivesse acesso aos mais variados atalhos do mundo. “Hoje qualquer Zé Mané conhece vielas, becos, passagens, ruas no meio de terrenos baldios que ele viu na internet. Isso banalizou a descoberta de atalhos. No meu tempo, era preciso ir pra rua, farejar o atalho, batalhar anos na base do erro e do acerto”, disse Marcos Rosa, que é taxista no Rio de Janeiro.

A chegada do aplicativo de Mapas para celulares parece ter sido o golpe de misericórdia na categoria. Em uníssono, eles reclamaram que qualquer perdido anda nas ruas de São Paulo como se fosse especialista no trânsito da cidade. Benedito Édson, representante de Cuiabá, disse que o trânsito de sua cidade está passando por muitas obras, o que promove bloqueios e a utilização de desvios. “Todo mundo agora passa pelas ladeiras que antes só eu conhecia”, afirmou com desprezo.

Outro problema que atinge os atalhistas é a figura que ficou convencionada como “fode-atalho” (shortfuckers no inglês). O fode-atalho é aquele cidadão que costuma a trafegar por atalhos em velocidades incompatíveis com quem tem pressa. “Afinal, quem está no atalho está com pressa”, diz Bjorn Gunnar Olsson, anfitrião do encontro. O fode-atalho também tem o péssimo costume de perder tempo ao passar por buracos e cruzamentos perigosos, duas condições características dos bons atalhos.

“Isso aí é uma consequência justamente da banalização dos atalhos”, prosseguiu Bjorn Gunnar Olsson. “O cara vê no Google Maps um atalho e passa a achar que pode andar lá. Esquece que atalho é coisa para profissional. Você precisa estar preparado para enfrentá-lo. Ninguém chega ao atalho de graça”, completou.

Em assembleia geral, os atalhistas de todo o mundo propuseram a criação de um conselho mundial da categoria, com a emissão de uma carteirinha especial que permita circular em atalhos. Uma comissão ficaria responsabilizada de definir o que é um atalho ou não e também seria a responsável por fiscalizar o cumprimento da determinação, com o descumprimento sendo punido com a morte.

Flagrante de pedestres atrapalhando atalho
Uma voz ponderada se levantou nesse momento e questionou como ficaria a situação de alguma pessoa morar em um desses atalhos e precisar utilizá-los apenas para chegar em casa. A maioria do plenário votou pela desapropriação desses moradores, sob o argumento de que a presença de pedestres e casas contribuí para a precarização dos atalhos em todo mundo.

Por fim, a plenária também decidiu que é preciso radicalizar o processo de obtenção de atalhos. “Amigos, sempre haverá uma porteira aberta, um terreno baldio sem muro, uma varanda espaçosa que poderá nos ajudar a chegar mais rápido nos nossos destinos finais”, afirmou um taxista eslovaco de bigodes, que eu me esqueci de anotar o nome, porque estava muito ocupado traduzindo a sua fala.

Ao final das discussões, foi realizado o primeiro campeonato mundial de atalho nas ruas de Oslo. Os participantes foram divididos na categoria “moradores da cidade” e “estrangeiros”. Os juízes somaram pontos para diversas ações, como pequenos trechos na contramão, atravessar o meio fio e total de quilômetros percorridos em ruas não pavimentadas. O uso de mapas acarretava na eliminação do candidato.

O cantor Bruce Springsteen cantaria no encerramento da Conferência, mas ele ficou preso no trânsito. A 2ª Conferência Mundial de Atalho irá acontecer em Lagos, na Nigéria, em 2015. O CH3 não estará lá.

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