O Legado Grego para o Mundo

Renato Aragão sempre conta uma história sobre uma criancinha que, durante uma grave seca no nordeste, perguntou a sua mãe se havia pão no céu, e morreu. Já eu, costumo a me perguntar se existe pão francês na França, e não morro. Bem, a resposta para os dois questionamentos é negativa. Não existe pão no céu e o pão francês, tal qual nós conhecemos, não existe na França. Sim, todo pão feito na França é francês, mas não é pão francês.

Aqui no Brasil nós também temos sorvete italiano, maçã argentina, bolo inglês, pão sírio, alface americana, canivete suíço. Exceção feita aos canivetes, nenhum dos itens citados deve ser realmente proveniente do outro país. Será que os italianos tomam sorvete italiano? Se você chegar na Inglaterra e pedir “may I have a piece of english cake?” o garçom irá te entender? Ou vai ficar olhando para você com uma cara de “sir, we only have english cakes”.

A mais recente invasão internacional no nosso país foi a do Iogurte Grego. Nos supermercados, já é praticamente impossível arrumar um iogurte que não seja grego. Sua diferença para os iogurtes tradicionais, dizem, é que ele é um pouco mais consistente. Me pergunto se antigamente os iogurtes que nós comprávamos no mercado não eram vendidos como “iogurtes belgas”, até se banalizarem. Se daqui a alguns anos, todos os iogurtes serão gregos e o mercado precisará inventar um “iogurte paquistanês”.

A Grécia é um ótimo país para se atribuir a origem de um produto. Ela é considerada o berço da civilização moderna. Uma sociedade habitada por filósofos pederastas, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Sófocles, Charisteas, responsáveis por todas as ciências que nós conhecemos e por toda a matemática que nos tortura no colégio. Eles são os responsáveis pelos logaritmos.

Por isso, quando alguma coisa é “grega”, nós a olhamos com respeito. O objeto proveniente da Grécia carrega uma carga secular de conhecimento, que irá garantir a sua qualidade. O Iogurte Grego é o iogurte que Platão tomava enquanto escrevia o mito da caverna, quebrando pratos e sodomizando um de seus discípulos adolescentes. Se o iogurte fosse “cipriota” (o Chipre é ali bem perto, há chances de que eles tenham culpa no cartório), ninguém ia nem pensar em comprar esse negócio.

Observe o tanto de coisas de origem grega, com as quais nós convivemos em nosso cotidiano. Sendo que talvez a mais antiga de todas seja a luta greco-romana. O esporte mais idiota das Olimpíadas, que consiste em dois homens em macacões ridículos tentando fazer um fist fucking no seu adversário.

Há tempos que as ruas de São Paulo estão infestadas pelo Churrasco Grego. Uma maçaroca escatológica de carne, vegetais e coliformes fecais que é presa em um espeto e que fica girando de maneira deprimente em locais próximos aos pontos de ônibus. É de se duvidar que os gregos, com toda sua carga intelectual, sejam capazes de realmente serem os inventores disso. E de fato, uma busca no Google revela que o Churrasco Grego, na verdade é Turco. Mas, você encararia alguma coisa surgida na Turquia? Provavelmente não.

Tempos atrás, com a popularização da literatura de Bruna Surfistinha, o Brasil passou a conhecer o “beijo grego”, que consiste em lamber o cu alheio. Há de se duvidar se os gregos realmente tem esse costume estranho de sair lambendo tobas por aí, ou se um grego um dia chegou no Brasil querendo beijar no cu de todo mundo e tomou umas porradas e morreu com infecção generalizada. Ou se o fato de os gregos terem inventando a democracia, fez com que as pessoas entendessem que eles entendem de foder os outros.

Por fim, voltando ao ramo culinário (aliás, você percebeu que tudo na Grécia é voltado para comer algo ou alguém?), temos o Arroz à Grega. Um tradicional arroz de festa, literalmente falando, que leva tudo o que sua imaginação pode pensar. Geralmente é cenoura, pimentão, ervilha e uva passa. Sim, as próprias. O que mostra que esse maldito item de nossa culinária vem se perpetuando em nossa espécie desde os tempos mais remotos. O que mostra que a sociedade ocidental não poderia dar certo. Que a crise financeira e social na Grécia é mais do que justificável, apenas pelo fato de eles terem popularizado as uvas passas. Um verdadeiro presente de grego.

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