Escravos da Tomada

Existem muitos requisitos que você pode observar na hora de escolher um hotel. Você pode se preocupar apenas com o preço ou com a localização. Pode escolher de acordo com critérios de conforto ou de acessibilidade. Talvez você tenha um frescura específica relacionada ao tamanho e a qualidade da cama, a marca dos travesseiros, a variedade de frutas do desjejum¹ ou a cor do frigobar.

Assim que você escolhe suas prioridades, você não irá se importar com o fato de o hotel estar localizado numa zona de baixo meretrício e que constantemente serve como locação de programas policiais, com atores envolvidos em tráfico de drogas e assassinatos. Você não se importará com ratos e baratas, ou em transferir todas suas economias para a conta do hotel. Também não se importará com a quantidade de tomadas no quarto. Deveria.

Nós, cidadãos modernos, somos cada vez mais dependentes de aparelhos eletrônicos. Temos nossos celulares, tablets, netbooks, notebooks, ultrabooks, máquinas fotográficas, mp3 players e minimáquinas de café. O que todos esses aparelhos têm em comum? Eles gastam muita bateria. Você tem que carregar o seu smartphone todo dia, a bateria do seu notebook dura risíveis três horas²…

Na sua casa, você deve possuir algumas tomadas e sabe onde todas estão localizadas, inclusive aquela camuflada atrás do sofá. Elas podem parece invisíveis, mas são suficientes para alimentar todos os seus eletrônicos. Em um hotel é diferente. Hotéis não gostam muito de investir em tomadas. Não tive tempo de ir à Todimo para pesquisar o preço dos materiais elétricos, mas acredito que o problema é que os hoteleiros acham que com muitas tomadas, nós iremos conectar soldas mecânicas na tomada e iremos dar um prejuízo enorme.
Como se já não bastasse, ainda há o maldito padrão novo

Quando você chega ao hotel, logo saí procurando a tomada para carregar seu celular que está no último traço. Invariavelmente, as tomadas disponíveis já foram ocupadas pelo frigobar, pela televisão e pelo ar condicionado. Alguns hotéis são tão muquiranas, que até os abajures são ligados por interruptores. A última opção acaba sendo aquela curiosa tomada localizada no banheiro. É difícil entender porque eles escolhem o banheiro como único local para disponibilizar uma tomada. Talvez seja para facilitar os eletrochoques na banheira.

Você tem que optar então, se irá carregar o celular, o tablet ou a minimáquina de café. É quase um dilema ético entre salvar um senhor de idade ou um adolescente. Matar três pessoas para salvar 46? No fim você escolher o celular, porque ele acaba fazendo tudo, até o café.

¹Se você se importa com isso, você é a típica pessoa que chama café da manhã de desjejum.

² Eis um ponto de involução da humanidade. Quando os primeiros celulares foram lançados no mercado, eles tinham o tamanho de uma barra de sabão de coco e suas baterias resistiam poucas horas. Os primeiros modelos vinham inclusive com uma bateria reserva, porque, além de tudo, você precisava soltar a bateria do celular para poder carregá-las. Havia uma bateria mais grossa, para oito horas, e outra mais fina para seis horas. Não é a toa que as pessoas usavam pochetes. Com o avanço da tecnologia, os celulares ficaram menores e suas baterias passaram a durar semanas. Hoje, os celulares novamente têm o tamanho de uma barra de sabão de coco (bem gasta, é verdade) e você precisa carregá-los diariamente.

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