As Estranhas Associações dos Fabricantes de Papel Higiênico

O mundo nunca chegou a um consenso sobre o papel higiênico. Seus detratores associam o uso do papel higiênico a uma forma lenta de suicídio. A aspereza do papel seria responsável por ir lentamente ferindo o esfíncter anal, promovendo uma enorme variedade de doenças, todas responsáveis por um sofrimento agonizante e vergonhoso. Além disso, ele não conseguiria limpar perfeitamente todas as dobras de região. Por isso, os detratores alegam que a forma mais saudável de promover a higiene anal é por meio da água, com um bom banho ou com duchas higiênicas.

O inconveniente do uso da água para tais fins, é que nem sempre essa possibilidade existe. Não é sempre que você pode tomar um banho após esvaziar o intestino e uso compartilhado em locais públicos de chuveirinhos de vaso sanitário é algo da ordem de horror. Portanto, o papel higiênico, mesmo com todos os contras, é a maneira mais viável de se manter limpo e apto para o convívio social. É extremamente desagradável conviver com uma pessoa cheia de fezes na bunda.

Acredito que justamente por esse medo do áspero, as marcas de papel higiênico tentam associar sua marca a maciez. Essa tentativa de associação passa pelas marcas dos produtos e pelas suas embalagens, repletas de imagens macias¹. Acontece, que pelo menos para mim, essas associações acabam sendo completamente bizarras.
Fora que já é difícil escolher. Tempos papéis com folha dupla e até mesmo tripla. Papeis coloridos, papéis texturizados, papéis com cheiro, até mesmo com sabor. Para todo tipo de cu, até os gourmets.

Em uma passagem pela gôndola de supermercado, essa minha velha amiga, comecei a anotar os nomes das marcas de papel higiênico e suas embalagens. Tinha para mim que era muito comum ter fotos de bebês nessas embalagens, mas não encontrei nenhuma assim. Será que eu confundia a imagem da gôndola de papel higiênico com a gôndola de fraldas? Não sei. Bem, o fato é que isso não me impediu de notar elementos estranhos.

Sublime: um desses dicionários de aspecto duvidoso da internet informa que sublime pode ser algo de notável perfeição ou o imperativo de sublimar, o ato de passar algo do estado sólido ao gasoso², ou ainda uma banda de punk da Califórnia. Não consigo associar nenhum desses significados ao ato de limpar a bunda.

Charme: parte do mesmo princípio do “sublime”. Você consegue imaginar alguém higienizando o ânus e ver algum charme nisso? Você imagina que o Guilherme Arantes compôs aquela música Cheia de Charme para uma paquera dele que sofria de incontinência fecal? Essa associação é impossível.

Neve: ah, a neve. Aquela coisa macia e branquinha, gostosa, na qual você poderia ficar se esfregando o dia inteiro, certo? Errado. Se há alguma verdade sobre a neve é que ela é absolutamente gelada. Eu nunca passei por essa experiência, mas tenho absoluta certeza de que não deve ser legal passar neve no rêgo.

Scott: com um nome absolutamente nonsense, o Scott apela para a imagem de um simpático filhote de cachorro. Na embalagem, o Scott (seria esse o nome dele?) está com suas patas apoiadas sobre o rolo. Para mim, isso é um tanto quanto arriscado, porque os cachorros geralmente gostam de comer o rolo, independente da virgindade do papel.

Personal: não há nada de errado no nome, porque realmente o papel higiênico é algo pessoal. Duas pessoas não podem usar o mesmo pedaço de papel, exceção feita aos casos de patologia comprovada cientificamente. O que há de estranho nessa marca é a sua embalagem.

Sim, o Papel Higiênico Personal utiliza uma surreal imagem de um coelho, com os dizeres “macio, branquinho e fofinho”. De fato, pode ser que o papel higiênico tenha todos esses atributos (caso você não tenha percebido, eu não realizei um teste de degustação dos papéis) e acredito que os coelhos realmente sejam assim, apesar de eu nunca ter encostado em um. Mas, o que é que tem que ver? Você limparia sua bunda com um coelho? Você já imaginou no pobre coelho coberto de merda? Existem muitas coisas que também são macias, branquinhas e fofinhas, como a própria neve e até mesmo o chantilly, mas você não limparia a bunda com nenhuma delas.

Minha imparcialidade jornalística faz com que eu tenha que mencionar aqui a marca Softy’s, que não me trouxe nenhum questionamento sobre o nome, o slogan ou a embalagem.

Voltamos em breve com mais alguma observação sobre o mundo da higiene pessoal.

¹Me passa pela cabeça agora que seria legal colocar uma imagem da Xuxa vestida de ursinho em uma embalagem de papel higiênico.
² Um imperativo idiota. Como é que você manda alguém sublimar?

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