As Esperas da Sala de Espera

A sala de espera é uma pequena representação do purgatório. Não importa se você está esperando para ser atendido por alguma autoridade, ou por um médico (no caso dos médicos, eles não devem estar entendendo essa distinção e pensando “ué, médico não é uma autoridade”), ou para uma entrevista de emprego. A sala de espera é um instrumento de humilhação, que te mostra que você tem que ficar ali esperando até receber a benção de ser atendido.
Sala de espera clássica, as cadeiras de cor berrante são um diferencial. Observe a solitária planta decorativa no canto esquerdo, que tem a função de humanizar o ambiente.

A sala de espera é um ambiente espaçoso, frio e cheios de poltronas, às vezes um sofá que te faz ficar encostando constrangedoramente nas pessoas. A parede tem quadros de natureza morta e, com sorte, uma televisão ligada em um programa completamente desinteressante. Há uma mesinha com várias revistas, dessas que só existem em salas de espera. Caras, uma Istoé de dois anos atrás, revista de avião e de conselhos profissionais. Revistas que você não se preocupará em abandonar a leitura na metade.

Há muitas maneiras de se esperar em uma sala de espera. Digo isso em relação a quantidade de pessoas.

Quando você está sozinho, a sensação é de agonia. Você começa a olhar todas as paredes e cortinas. Começa a pensar se há uma câmera escondida em algum lugar, se a sala de espera por algum acaso é uma sala de controle. A sensação de que você pode estar sendo observado ali dentro é terrível. A televisão está mostrando o Mais Você, será que você pode mudar? Ou quando você colocar a mão no controle vai aparecer alguém e te repreender. Coçar o nariz, coçar o saco. Você pode?
Sala de espera moderna e pouco funcional. As poltronas futuristas são claramente desconfortáveis. Prateleiras inúteis que deixam pouco espaço para as pessoas sentarem. A posição da televisão prioriza apenas a recepcionista.

Se mais uma pessoa estiver com você, vocês acabam por realizar um duelo involuntário. Você olha disfarçadamente para a pessoa, ela faz a mesma coisa. Em determinado momento os dois se olham e disfarçam. Você flagra a pessoa tirando uma salsinha do dente e resolve pegar aquela Caras com a Ana Maria Braga na capa, sem se importar em ser julgado. No fim, tudo o que você torce é para que ele não puxe assunto com você, sobre a popularidade do papa, sobre a calamitosa situação do São Paulo ou o casamento da Daniela Mercury.

A partir do momento em que três pessoas estão na sala de espera o duelo continua, mas desta vez é ao estilo do final de Três Homens em Conflito. O medo é de que alguém se sinta numa mesa de bar e comece a puxar assunto sobre o Telexfree. A torcida é que para a pessoa constrangedora que puxa conversa com estranhos acabe conversando com a outra pessoa. Te deixando livre para fingir ler a Caras com Ana Maria Braga na capa enquanto escuta a conversa.
Sala de espera chique, com uma cadeira totalmente retardada. As poltronas intimidam e os quadros abstratos confundem. A mesa de centro é muito esnobe para apoiar meia dúzia de Caras.

Considero que cinco pessoas seja um bom número para uma sala de espera. Um número que dá certo conforto para que as pessoas não precisem ficar vigiando umas as outras ou temendo uma conversa coletiva sobre a preparação do Brasil para a Copa do Mundo. O número ideal mesmo é aquele em que todas as poltronas estejam ocupadas, com apenas duas vazias. Para que ninguém fique receoso com a possibilidade de que chegue mais alguém e que esse alguém tenha que ficar em pé e que você não possa nem levantar para trocar a Caras da Ana Maria Braga pela Caras da Juliana Paes correndo o risco de perder o lugar.

Porque quando a sala está lotada, o clima é de apreensão. Aquelas pessoas que ficam em pé próximas a porta observando a movimentação, esperando um momento para se apossar de um sofá quente. Sentar em um sofá quente é uma sensação horrível. Há sempre a possibilidade de que o cidadão que checava e-mails ao seu lado levante para tomar uma água e tenha sua poltrona ocupada por um cidadão de calça tectel. Pode haver um conflito bélico e você talvez tenha que se esquivar de um golpe, ou de uma bala perdida.

Há muito para se esperar em uma sala de espera.
Essa sala cria um pequeno dilema: o sofá embaixo do ar condicionado deve ser extremamente frio e muitas pessoas irão preferir ficar em pé. A presença de duas árvores de plástico não ajudam. Os quadros com sorrisos são no mínimo intrigantes.

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