Os viciados em Opinião

Aquele seu amigo que comenta todas as suas postagens no Facebook. Ele mesmo que é muito ativo nas redes sociais, discutindo os mais variados assuntos. Ele que opina sobre a Primavera Árabe, sobre o vandalismo nos protestos, ele que gosta de definir qual foi a melhor versão do hino brasileiro na Copa das Confederações, que entra nas maiores discussões virtuais sobre vegetarianismo, arruma brigas por defender o voto distrital misto. Você não sabe e talvez nem ele saiba, mas, ele precisa de ajuda. Ele é um viciado em dar opinião.
Nós ocidentais, temos que ver que a primavera árabe com outro olhar. Não podemos comparar a situação
em que esses povos vivem, com a situação do ocidente. Eles estão vivendo a Revolução Francesa deles.

Todos nós temos opiniões sobre os mais variados assuntos, mesmo aqueles que nós não temos um conhecimento profundo. Eventualmente palpitamos sobre um assunto na moda, sobre algo que vemos na TV. Mas, geralmente preferimos nos resguardar, principalmente dos assuntos que não dominamos. O Viciado em Opinião não faz essa distinção.

Ao longo de toda a história da humanidade, tornar sua opinião pública não foi uma tarefa fácil. A situação começou a mudar lentamente com a invenção da prensa de Gutenberg, mas, mesmo assim, não era todo mundo que tinha o domínio da tecnologia e da própria escrita. O surgimento dos meios de comunicação de massa facilitou o processo, mas os veículos de comunicação sempre estiveram na mão de pequenos grupos. Além disso, regimes totalitaristas restringiam a manifestação de opiniões divergentes.

Tudo isso mudou no advento das redes sociais. Seu Twitter e seu Facebook são janelas para o mundo e o se você quiser ir adiante, poderá montar um blog. Você pode falar sobre tudo e é exatamente isso que o Viciado em Opinião faz. Paralelamente, não podemos negar que há uma pressão na sociedade para que você se manifeste o tempo todo. Se você não opinar sobre um assunto, parecerá uma massa de manobra dos poderes que corrompem sua alma.
Os jogadores deviam ter cantado o hino nacional de costas? Não sei. Eles não precisam fazer algo que eles não estejam sentindo, só porque a pressão popular quer. Não podemos julgá-los por isso.

Não há mal nenhum nisso, se não fosse pelo fato de que os adictos deixam de viver sua própria vida para opinar sobre o mundo.

Como em tantos outros vícios, é difícil saber quando o problema começa. No início pode parecer apenas um lazer, uma distração, mas logo se transforma em um inferno. O viciado se afasta da família, dos amigos, deixa de ter vida social, não assiste nem mesmo vídeos no Youtube para poder se manter antenado nas notícias do mundo e poder palpitar sobre elas. A página de comentários do G1 pode parecer a representação do apocalipse para você, mas para o Viciado em Opinião é a redenção.

Talvez o começo esteja nas aulas de redação do colégio, quando você é estimulado a escrever textos de 20, 25 linhas sobre todos os assuntos da atualidade, ler todos os site e ter uma opinião crítica sobre tudo. Isso é importante, mas torna-se um problema quando as pessoas se afastam de você pensando “lá vem aquele cara chato”.
É uma crueldade com os animais? Talvez. Mas temos que pensar que eles nasceram apenas para morrer. Se não fosse para nos comermos-o, eles não existiriam.

Como tudo na vida, há uma chance de uma recuperação, há uma chance de mudar. A primeira coisa que ele precisa é de força de vontade. Procurar psicólogos, psiquiatras que poderão lhe receitar sedativos a serem usados no momento em que ele se exaltar em uma discussão sobre o novo filme do Super Homem. Também precisará diminuir gradativamente o acesso às redes sociais. Chegara um momento em que o viciado conseguirá não opinar sobre pacotes anunciados pelo líder supremo da nação.

Há uma luz no fim do túnel.

Comentários

Gressana disse…
Opinião é igual cu. Não reproduz.
Mas bem dito no texto, o vício pode ser tão danoso quanto cocaína. Mas é só tristeza.