A estrada vai...

Em todos os lugares do mundo sempre haverá alguém que está viajando. Viajando por prazer, viajando por lazer, viajando por motivos familiares, a trabalho, viajando para garantir que você possa comprar uma Coca Cola em Guiratinga. Viajando de avião, viajando de carro, ônibus ou caminhão. Viajando a pé, de bicicleta, viajando de barco, a nado, de joelhos, pagando promessas em algum caminho místico que será tema de livro do Paulo Coelho.

Desde que o mundo é mundo as pessoas viajam. Viajar está no sangue do homem, uma vez que lá na origem a nossa espécie era nômade. Transitávamos de um lugar para o outro em busca de raízes e frutas que pudéssemos coletar, por uma vida melhor. Depois, viajamos para descobrir novas terras, novos lugares, por uma vida melhor.

O objetivo da viagem é sempre este: ter uma vida melhor. Viajamos de férias, por trabalho, por família, porque de alguma forma o dinheiro, o descanso ou o emocional nos farão ter uma vida melhor. Ninguém sai de casa se não for por um bom propósito. Ninguém encara horas dentro dos mais variados veículos de transporte se não for por um bom motivo. Mesmo nossos ancestrais nômades pararam de viajar quando descobriram a agricultura.

Porque não é fácil sair de casa. Sair de casa não significa apenas arrumar uma mala, pegar uma máquina fotográfica, passar protetor solar e cair no mundo. Significa deixar para trás sua casa e junto com sua casa uma série de coisas. Seu chuveiro, sua cama, seu armário, seu quarto, basicamente o seu mundo. Note que só aqueles que são infelizes em casa é que conseguem ser plenamente felizes quando estão na estrada.

A viagem é um exercício de sobrevivência contra a loucura. Uma batalha contra os seus próprios pensamentos. Tantas horas ali, sentado diante de um encosto de poltrona e um aviso para apertar os cintos. Horas olhando para a estrada e os carros que passam e os buracos que se aproximam. Olhando para o infinito do mar. Contando os passos, as braçadas, as remadas. É inevitável que em algum momento você pense em parar e que só não desiste porque a essa altura você já está longe demais de casa para voltar.

E falo isso nesses tempos modernos em que você pode chegar a Brasília de avião em menos de duas horas. Em 12 horas você atravessa Mato Grosso e chega a Alta Floresta de carro. Imagine no passado. Imagine aqueles que se jogavam ao mar para seis meses de viagem rumo à América, rumo ao desconhecido. Imagine os bandeirantes que se preparavam para viagens que durariam anos no lombo de um cavalo rumo ao interior do Brasil.

Como domar as sensações de que você não vai chegar? De que nunca vai chegar? Porque você está fazendo isso? Não tem como chegar mais depressa. O chegar mais depressa é que provoca tantos acidentes. E aqueles que conseguiam sobreviver meses cavalgando no meio do nada eram loucos. Só os loucos e desequilibrados partiam para essas viagens antigamente. O Brasil mesmo, imagino que tenha sido colonizado por estes vários dementes. Isso deve explicar muita coisa.

Você pode ouvir música, mas, mesmo a música irá te cansar uma hora. Você pode ler um livro, a menos que você esteja dirigindo, mas também irá se cansar. Pode dormir, mas o sono nunca será o suficiente e você irá acordar dolorido. Em uma longa viagem, você não tem nada para fazer, exceto sobreviver.

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