3 Propostas de samba-enredo

Na era do samba-enredo patrocinado, das rimas mercadológicas e dos suportes estatais, o carnaval tem se tornado um evento cada vez mais desinteressante. Assistimos escolas falando de temas como “Cavalo Mangalarga Marchador”, “Iogurte” e “Royalties do Petróleo” na Sapucaí. Mais divertido do que assistir aos estapafúrdios desfiles, é tentar adivinhar quem é o patrocinador da bagaça.

É neste cenário que o CH3 propõe três temas para samba enredo, numa tentativa de trazer de volta a irreverência, a relevância e a criatividade ao sambódromo.

1: Frango Frito.
O frango frito seria o mote principal do desfile e conseguiria um patrocínio fácil da Seara ou Sadia/Perdigão e quiçá de alguma marca de óleo. Mas, ao longo do desfile, poderíamos fazer uma série de alusões com outros temas relacionados à história do frango.

A comissão de frente seria o grande destaque do desfile. Bailarinos coreografados por Carlinhos de Jesus estariam vestidos de coxa de frango cru. No meio da Avenida, diante das câmeras e do mundo, a surpresa: os integrantes entram no carro de apoio, que tem o formato de uma panela que solta fumaça. De lá eles saem vestidos de frango frito.

O carro abre-alas seria um enorme Frango Assado e sobre este carro várias mulheres seminuas dispostas aleatoriamente garantem a divulgação da Escola na internet.

Teríamos uma ala dedicada às origens do frango frito, provavelmente o Egito. Uma alegoria com uma pirâmide e uma pessoa representando Cleópatra, que dentro do nosso contexto, adoraria a iguaria. Logo depois, outra ala com dezenas de pessoas vestidas de celebridades que supostamente adoram um franguinho, como Amy Winehouse, Michael Jackson e Marilyn Monroe. E claro, uma homenagem a Alcione, porque ela tem cara que adora uma coxinha de galinha.

Depois, teríamos um carro alegórico com uma imensa Caravela, simbolizando que foram os portugueses que trouxeram o Frango Frito ao Brasil.

Outra ala dedicada a Galinha de Angola, o que já rende um carro dedicado aos escravos, que na ausência de frango eram obrigados a fazer feijoada com restos de porco. Dentro do carro, o mago da cozinha, Felipe Bronze, fará uma inovadora feijoada de frango, que será servida no camarote Brahma ao final do desfile.

Ainda teríamos um carro dedicado a Cidade de Deus, pegando o gancho da cena inicial com a galinha. Carro que exaltaria a malandragem do povo carioca e Seu Jorge. Teríamos uma ala dedicada aos frangos de macumba e aos pais de santo, garantindo citações dispersas a todos os orixás. A bateria estaria vestida de cachorro, em homenagem aos cães que passam o dia inteiro babando na frente das galeterias. (O frango giratório seria representado pela madrinha de bateria, uma galinha qualquer).

Alas dedicadas aos derivados do frango, como Nuggets e salsicha. Aos pratos com frango, como o Frango Xadrez, garantindo uma verba extra do governo chinês. Uma ala com o homem da roça, referência ao frango caipira. Uma ala dedicada aos acompanhamentos do frango frito, com ênfase na cerveja (Olha a Brahma ai gente). No último carro alegórico, a representação de um bar, com toda a velha guarda da escola, acenando, sorrindo e comendo frango frito.

Fim. Público ovacionando e cantando o samba.

“Porque foi lá no Egito / Que descobriram o Frango Frito / Alegria de Cleópatra e outros maiorais / Dezenas de bambas imortais / Oxalá, meu rei tomará / Embarque nessa viagem você também / Porque foi Cabral / que num 22 de abril / Tornou o frango nacional / Orgulho do meu Brasil”.

2: O Bóson de Higgs
Enredo pós-moderno que iria abordar vários aspectos da física e da existência humana.

O grande destaque do desfile seria a presença de patinadores que ficariam correndo ao redor da avenida, simulando as partículas aceleradas lá no subsolo da Suíça. E a bateria, ao invés de ficar junta no recuo, ficaria espalhada no meio das alegorias e das diversas alas. Os ritmistas seriam os elementos que dão origem a todo o resto, no caso o samba. Você pode argumentar que isso atrapalharia o andamento da escola. Mas seria o show. E show não atrapalha.

A comissão de frente seria formada por dezenas de casais seminus, simbolizando a origem da vida. O carro abre-alas seria uma representação daquele foto icônica de Einstein com a língua para fora, representando os desafios da física moderna.

Uma ala seria dedicada a Newton e a maçã que caiu sobre sua cabeça, dando espaço para uma alegoria com Adão, Eva e a maçã. Eva representada pela mulher maçã, toda nua, apenas com o corpo pintado. Para o papel de Adão, pensei em Rubens Ewald Filho. Seria um enredo ao mesmo tempo criacionista e evolucionista.

O acelerador de partículas seria simbolizado por um carro com vários pilotos, como Rubinho Barrichello e uma imagem de Ayrton Senna, garantindo a empatia do público e muitos momentos de emoção para a edição do Jornal Hoje. (Além de um aporte financeiro de grandes montadoras).

“Desde os tempos lá do Einstein / O mundo procurava o Bóson de Higgs / E para celebrar essa descoberta / Vem no batuque da Imperatriz”

3: Masturbação.
O carro abre-alas seria uma mão aberta com o nome de: “a mão divina”.

A mão divina
Depois disso, nada mais importa. Encheríamos o desfile de mulheres seminuas e um samba cheio de frases de duplo sentido com a masturbação.

“Chegou a hora de descabelar o palhaço / Todo mundo no cinco contra um, aí / Nosso samba é para quem é bom de braço / Uma explosão na Sapucaí”

Com a inestimável colaboração de @gutopera

Comentários

Augusto Pereira disse…
A galinha qualquer foi ótimo. Mas fiquei bem interessado em ouvir a letra inteira da Mão Divina.