Na época em que Carminha era boa |
Na próxima sexta-feira irá ao ar o último capítulo da novela Avenida Brasil. Novela que é o assunto predominante em todas as redes sociais, em todos os sites de notícia do Brasil e quiçá do mundo. Todo mundo quer saber quem matou o Max, quem comeu a Isis Valverde, quem... quem quer que tenha feito qualquer coisa na novela. Mesmo, com todo este interesse envolvido, a novela é um fracasso, curiosamente.
Aliás, todas as novelas são um fracasso. Um curioso fracasso. No Brasil não existe uma única pessoa que assuma que assista novelas. Quem sabe o andamento da trama é porque tem o misterioso hábito de passar na frente de televisões misteriosamente ligadas e sintonizadas na Globo durante a exibição do capítulo. Creio que essas pessoas têm o estranho hábito de caminhar em frente de lojas de eletrodomésticos na hora da novela.
Mesmo assim, mesmo com esse desgosto geral pela novela, existe uma enorme indústria relacionada a elas. Centenas de revistas, centenas de sites, programas de televisão especializados apenas em desvendar os mistérios da teledramaturgia nacional. Da mesma maneira, os jornais sempre divulgam o resumo diário dos capítulos. Um mistério.
Uma das explicações está no fato de que, existem sim pessoas que assistem novelas. Mas, apenas uma. Apenas aquela. Em toda a sua vida, jamais assistiu nenhuma novela, apenas esta que ela está comentando. O que continua a ser um mistério incrível. Se cada pessoa assiste a apenas uma novela durante toda a vida, como é que elas têm um índice de audiência tão grande e que se mantém a cada nova edição? Manipulação do ibope, creio eu.
Gostar de novelas é um sinônimo de vergonha moral. Assumir que gosta de novelas é comparável a assumir que mantém relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, que gosta de uvas passas e que come cera de ouvido. Assumir que gosta de assistir a atual novela é certeza de demissão e de exclusão social. O noveleiro tem que viver seu prazer solitariamente.
Veja que, mesmo aqueles que assistem novelas, todas elas, e assumem isso, não gostam delas. Ninguém, nunca, em hipótese nenhuma, jamais falou “essa novela é boa”. A telenovela é sempre uma porcaria. Os personagens são ruins, as atuações são ruins, a trama não convence. Mesmo assim, a pessoa assiste. Um prazer solitário que é quase um sofrimento. Uma masturbação masoquista.
Sexta-feira, então, quando finalmente descobrirem que a Carminha matou o Max, as pessoas se decepcionarão com o final previsível. Mas, se o Max tivesse sido morto e sodomizado pela Inquisição Espanhola, às pessoas também reclamariam que o final foi ruim. Enfim, já deu para entender que tudo em uma novela é ruim e que é misterioso como o Murilo Benício e todos esses outros atores tem contratos milionários e estampam capas de revistas.
Uma novela só se torna realmente boa, alguns anos mais tarde. Quando ela é repetida no Vídeo Show e todos repetem bovinamente “essa novela foi muito boa, esse Tonho da Lua era um gênio”. Um curioso caso de melhoramento tardio.
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