Grandes dúvidas que não têm explicação (20)

As conversas eróticas no avião de Emmanuelle

A morte da atriz holandesa Sylvia Kristel comoveu uma geração. Kristel foi a intérprete original da personagem Emmanuelle, uma lenda do prazer solitário noturno nos anos 70. No filme original, ela interpretava uma mulher casada e entediada que durante uma viagem a Tailândia teve contato com as mais diversas experiências sexuais, com homens, mulheres,cachorros, árvores e o que mais aparecesse pela frente.

Pois é, a série foi nos anos 70 e nessa época nem eu, nem ninguém da minha geração era nascido. Dessa forma, Sylvia Kristel jamais será uma musa, deusa do prazer para este blog. Para nós, Sylvia será eternamente a velhinha do avião. Exatamente. A Emmanuelle que nós acompanhamos é a série francesa dos anos 90, na qual o papel de Kristel se resumia a de conversar com um senhor no avião.

Quem foi adolescente na virada do século sabe como era difícil ter farto acesso as mais diversificadas variedades de pornografia. Desta forma, o Cine Privê da Rede Bandeirantes era um clássico absoluto dos jovens, uma oportunidade única. Naquele momento era apenas você, o controle remoto e a luz azulada da televisão. Silêncio absoluto, todos os seus sentidos aguçados para evitar ser pego na cena do crime. Você seria capaz de escutar uma agulha caindo na sala ao lado e sem a ajuda do aparelho de surdez da Polishop. Porque a televisão estava no mudo, é claro.

Isso fazia com que acompanhar a história do filme fosse muito mais complicado, porque ele era dublado. Não que você estivesse interessado na história, mas, depois de tantas repetições, uma dúvida começava a bater: do que será que esse filme trata? (Um breve parêntese: apesar de ridicularizado, Emmanuelle tinha um nível de erotismo bem maior do que a maior parte do acervo da Bandeirantes. Incluindo aí o famigerado “Emmanuelle no Espaço, no qual uma outra Emmanuelle introduz – sem duplo sentido – extraterrestres ao mundo do prazer sexual).

O roteiro de Emmanuelle era completamente não linear. Cenas de mulheres fazendo sexo em um país europeu seguidas por dois velhos no avião. Logo depois, a Emmanuelle estava em um barco, se transformava em outra mulher e os dois velhos voltavam a conversar. Tínhamos cenas de sexo na Alemanha, nas Filipinas, em Amsterdã. Várias mulheres, vários homens, várias situações e várias conversas entre os dois velhos no avião, naquele que deve ter sido o mais longo voo da história. E a conversa no avião era de fato, a parte mais (broxante) intrigante da história.

Basicamente, Emmanuelle é uma mulher que tem o espírito de todas as outras mulheres do planeta dentro dela. Para encarnar qualquer mulher, eu disse qualquer mulher, basta pingar duas gotas de um perfume mágico entre os seus peitos. Pronto.

Na versão anos 90, Sylvia Kristel interpreta a Emmanuelle velha que encontra seu grande amor, no caso o pior 007 da história, em um voo internacional. Eles passam então a conversar sobre o passado, numa conversa sobre sexo, basicamente. Vovôs tarados.
- Se lembra da Cristina? Ela não conseguia transar com ninguém, eu me transformei nela e a vida dela mudou.
- Se lembra aquela vez que nós transamos em Berlim? Foi ótimo.
- E a Claudinha que se vestia de homem e colocava duas laranjas dentro da calcinha para tentar enganar? Menina levada.

No final, Kristel volta a ser jovem, assim como o 007 e os dois transam dentro do avião. Nenhum dos outros passageiros se manifestou sobre o assunto.

Comentários

Thiago disse…
Ha alguns anos fui escutar a abertura de Emmanuelle pela primeira vez, no youtube, saudade dos tempos de TV no mudo
Anônimo disse…
tv no mudo e a luz azulada da tv... pow, tudo a ver.. kkkkk