Razões para o fracasso Olímpico

Sempre que as Olimpíadas começam, os brasileiros criam uma enorme expectativa. Finalmente o Brasil se transformará em uma potência olímpica, massacrará os adversários e garantirá a soberania nacional. Uma falsa expectativa, que logo é quebrada quando brasileiros começam a sofrer derrotas para letões, búlgaros, filipinos e laosianos nos mais diversificados esportes. Os atletas viram motivo de chacota nacional e passam a ser perseguidos. Criam-se inúmeras teorias para explicar o fracasso brasileiro.

De fato, há de se reconhecer que o Brasil evoluiu no esporte. A delegação brasileira cresce a cada edição e os atletas ocupam papéis intermediários em esportes antes insignificantes. Agora, para chegar a um nível mundial, vai muito tempo. Alguns esportes caminham para isso, outros, nem tanto, muito pelo contrário. Mas, afinal, porque o Brasil não vai bem nas Olimpíadas?

Tese 1: Brasileiros são fracos mentalmente.
O fracasso brasileiro nos Jogos seria um reflexo do próprio povo brasileiro, que é um fracasso como nação. Antropólogos do começo do século passado diriam que isso é culpa da miscigenação, mas, felizmente essas teses foram deixadas de lado pela maioria. De fato, muitos brasileiros falham na Hora H. Tropeçam, não conseguem repetir seu melhor tempo, sentem as pernas tremerem e saem humilhados. Mas, isso não é exclusividade brasileira. Muitos norte-americanos também falham nos momentos decisivos. A questão é que a falha de um brasileiro significa uma medalha a menos entre as 10 que o Brasil ganharia. A do americano é apenas uma entre 100. Portanto, mal é percebida.

Tese 2: A mídia da azar
A mídia brasileira dá azar, Rubens Barrichello que o diga. A imprensa teria o papel de informar o povo, em sua maioria leigo sobre boa parte dos esportes. Mas, faz isso de péssima maneira. Fabiana Beltrame foi campeã mundial no Remo? Foi. Mas em uma categoria que não faz parte do cronograma olímpico. E assim sendo, ela teria chances mais do que remotas de ter um bom desempenho na sua prova em Londres. A TV aberta falou isso? Não. Além do mais, creio que aqueles gritos de “vai Brasil” só sirvam para arruinar a vida dos atletas. Fora quando resolvem ir na casa da família do judoca. Sempre dá merda. Estrelar propaganda antes das Olimpíadas? Certeza de derrota. Certo que isso não é privilégio dos brasileiros também. Os jornais italianos, por exemplo, chamaram uma nadadora que já foi campeã olímpica de fracassada, pelas derrotas obtidas neste ano.

Tese 3: Brasileiros não tem o devido preparo.
Na China, o tênis de mesa é um esporte ultra-popular, praticado por duzentos milhões de pessoas. Entre esses tantos, pelo menos mil vão ser grandes competidores. Dez estarão entre os melhores do mundo. Um vai ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas, porque treina bem. Quantos mesatenistas o Brasil tem? Hugo Hoyama é o representante nacional desde que eu nasci. E quantos canoístas? Tirando meia dúzia de esportes, o resto vive de um eventual Don Quixote.

Tese 4: Os Juízes prejudicam o Brasil.
Geralmente esta é uma das teses mais difundidas. O Brasil representaria, não sei, uma ameaça para as grandes potencias que resolvem frear o avanço brasileiro com decisões equivocadas. Em todo o mundo, temos uma série de juízes que acordam de manhã e enquanto escovam os dentes pensam “Outro dia, mais um dia para prejudicar o Brasil, que belo dia”.

Tese 5: O povo brasileiro merece o fracasso.
Uma judoca brasileira é eliminada por conta de um golpe ilegal. No Twitter, dezenas de pessoas começam a ofendê-la. Chamada de macaca, considerada uma vergonha para o Brasil, comparada aos políticos corruptos que gastam o dinheiro público em benefício próprio. Durante os quatro anos, alguém se lembrou, ou sabia da existência dessa judoca? Provável que não. Você acha que um povo que tira o dia para ofender gratuitamente uma atleta que sequer conhece, merece ter alguma felicidade na vida, mesmo que essa felicidade seja através da conquista esportiva de outra pessoa? Creio que não.

Sharapova treina muito. 
Tese 6: Infelizmente, os outros adversários também treinaram.
Atletas da Letônia, Mongólia, Bahamas, Bélgica, todos treinam duro e também tem o objetivo de ganhar. Infelizmente, os franceses não entram para perder. O pobre atleta holandês também superou vários problemas para chegar até as Olimpíadas e está disposto a matar ou morrer por uma medalha. Um problema sério.

Comentários

wilson Navegante disse…
Quantos clubes, quantas academias, quantas escolas dão moportunidade aos adolescentes para desenvolverem suas potencialidades atléticas? O atletismo pertence à cultura brasileira? Se a essas respostas tivermos respostas satisfatórias, de modo que tenhamos desportistas de qualidade, só teríamos a lamentar o desequilíbrio psicológico, a falta até de patriotismo, numa competição que dá ao canditado a um título fe importância internacional. Acontece que esportistas de qualidade são discriminados ou esquecidos, em nossas fronteiras, entre pindios, ou tros grupos de menor prestígio social, que não têm poder aquisitivo ´para academias e mostrar e desenvolver seu potencial
Leidóca disse…
Ótima análise, Gui.

Acho que nunca vi você falando tão sério.