A morte na era da Internet

Imagino que matar alguém nunca foi fácil. Matar alguém não é como pegar um ônibus, por mais que pegar um ônibus não seja exatamente fácil. Mas, você não chega para alguém e fala: Morre! Bem, você até fala. Mas isso não significa que vai dar certo. Você pode desejar a morte de alguém várias vezes, mas o desejo não se cumpre sozinho. Você precisa de ação.

Um tiro na cabeça, uma facada no peito, sufocar com um travesseiro. Até mortes mais elaboradas, que envolvem emboscadas, roldanas e uma estaca que atravessa a veia femoral. Fora as dificuldades logísticas, há toda a questão psicológica. A frieza necessária para executar o ato e toda a descarga emocional. E o peso na consciência? As consequências judiciais?

Definitivamente, não é fácil matar alguém. Tanto que mortes insólitas sempre chamam a atenção. O cara que morreu no dia do aniversário, o cara que foi atropelado por um elefante, o cara que foi serrado ao meio, acidentalmente, por uma motosserra no dia do seu aniversário (do cara, não da motosserra), o cara que se engasgou com um espinho. Ou os famosos, os que morrem cedo. Por mais que seja um destino natural, a morte sempre para no jornal. E, dizem alguns, vende jornal.

Definitivamente, não é fácil matar alguém. Ou melhor. Não era. Hoje é. Muito fácil. Você pode matar alguém a qualquer momento. E nem vai precisar de facas, revolveres, travesseiros, barras de ferro, canetas bic, jamantas amestradas. Nada de furos, nada de cortes, nada de sangue. Para matar, bastam palavras. Basta saber divulgar essas palavras.

Sim, palavras matam desde os tempos de Shakespeare. Uma morte figurada, um sacrifício da alma. Hoje, as palavras matam ficcionalmente. Para matar alguém, basta publicar uma foto com texto no Facebook.
A televisão mexicana Televisa, anunciou a pouco que o Seu Madruga
morreu em um acidente de carro. Se você admirava o trabalho deste
artista, compartilhe.
Pronto. Seu Madruga está morto. Nos últimos tempos, todos os personagens do Chaves já morreram catorze vezes, cada um. No twitter, sei lá como, várias mortes aleatórias vão parar nos sempre misteriosos Trend Topics. Você entra e lá está um #RIP Madonna. Você joga no Google e o primeiro resultado é “Madonna é morta no Twitter”. As pessoas passam então a comentar que a morte de Madonna não ocorreu. Uma situação sempre descrita como “uma brincadeira de mau gosto”.

Matar alguém, hoje em dia é fácil:
1) Escolha sua vítima. De preferência a artistas estrangeiros. É essencial que as pessoas pensem que ele realmente poderia morrer. E que sintam a falta dele.
2) Escolha uma foto poética do artista. Uma na qual ele está rindo, ou fazendo uma pose.
3) Abre seu Facebook e faça o upload dessa foto.
4) Escreva um texto, afirmando que uma televisão do pais natal do artista está noticiando a morte do artista. Compartilhe.
5) Espere a comoção nacional.
6) Faça um brinde com um champanhe.
7) Espere o artista convocar uma coletiva para negar os boatos que ele esteve na pior. Digo, que ele esteve morto.

E a pergunta é: e no dia em que alguém realmente morrer no Facebook? Tipo, morte fulminante enquanto compartilhava uma montagem colorida?

Comentários

Thiago disse…
Vamos matar o Ricardo Teixeira? hehehehe