Guia CH3: Como popularizar o futebol nos Estados Unidos

Ontem foi o dia do Super Bowl. O maior evento midiático do planeta, que, por um acaso, tem um jogo de futebol americano no meio. Pensei em explicar a existência desse evento, mas percebi que seria meio difícil. A começar pelo fato de que os americanos chamam de “football”, um esporte que é praticado essencialmente com as mãos durante 95% do tempo. Bizarro, igual os americanos.

Os esportes prediletos dos norte-americanos são o basquete (raro exemplo de esporte praticado em outros países normais), o baseball (aquela bizarrice de pessoas correndo aleatoriamente), o hóquei (uma espécie de luta livre com dois gols) e o já citado football. O nosso futebol tem poucos adeptos por lá. Mesmo com algumas tentativas de divulgação, ele permanece sendo considerado um esporte de mocinhas e mexicanos vagabundos.

A partir da observação dos esportes norte-americanos mais populares, nós podemos pensar em algumas alternativas que ajudariam a popularizar o futebol de verdade naquele país sórdido. Todos nós sabemos que o nível de confiabilidade de um país é medido através da sua capacidade de jogar bola.

Marcos Assunção, quarterback do Palmeiras
O Super Bowl, por exemplo. O esporte é o que menos importa ali. A partida mesmo, é um jogo disputado por dezenas de pessoas, sendo que apenas uma pensa, o quarterback. Ele é o responsável por lançar bolas e conduzir o time, enquanto os outros jogadores ficam se batendo. Um bom quarterback ao lado de um grupo de dementes mentais poderia ganhar um campeonato.

A atração mais importe fica no resto do tempo. Dois terços da transmissão são ocupados pelo grande show do intervalo, com algum astro internacional, e com as propagandas. Propagandas ótimas, feitas especialmente para esta data. O único momento do ano em que os publicitários conseguem pensar.

E aí está. A primeira coisa a mudar no futebol, para que ele conquiste o público americano, é o seu formato. São dois tempos de 45 minutos, sem nenhuma parada oficial e apenas 15 minutos de intervalo. Quase não há tempo para as propagandas. Se o jogo for disputado em quatro tempos de 20 minutos, com 15 minutos de intervalo entre cada um, já será um avanço.

Além dos intervalos, os esportes americanos têm paralisações rápidas durante o jogo. Um tempo para o técnico, para armar uma jogada. Pequenas interrupções de um minuto, a cada cinco minutos de jogo, para que o americano médio possa pegar uma pipoca e uma cerveja, se fazem necessárias. Aliás, é melhor que o tempo seja contado na regressiva.

Americanos são viciados em estatísticas. O beisebol tem uma centena delas. O jogador que mais rebateu bolas para fora do estádio, aquele que mais pagou flexões enquanto a bola estava no ar, antes de dar um bico na barriga daquele cara fantasiado de tartaruga ninja. O basquete também tem as suas de assistências e rebotes. E o futebol?

O futebol tem pouquíssimas estatísticas individuais. Apenas os gols são divulgados com ênfase. Falta estatística para o gols estadunidense. O jogador que cobrou mais laterais, o que realizou mais dribles. Imaginem os narradores norte-americanos vibrando “uou! Ele conseguiu um gol, uma assistência, um drible e uma roubada de bola! Pontuou nas cinco estatísticas majoritárias! Uou My God!”. O milésimo drible teria a mesma importância do milésimo gol.

A dinâmica do jogo também pode e deve ser alterada. Todos os esportes americanos têm tempos limitados para os ataques das equipes. Não há como um time tocar a bola eternamente, em busca de um 0x0. Poderíamos aproveitar esse tempo de cinco minutos antes das propagandas. O time teria cinco minutos para fazer um gol. Caso o contrário, o adversário teria um pênalti a seu favor, mais a posse de bola.

Isso também ajudaria a aumentar o placar das partidas. Americanos não entendem como é que um jogo pode terminar 1x0. Estão acostumados com os 33x26 do futebol americano, 112x98 no basquete, 6x4 no beisebol. No novo formato, os jogos poderiam terminar 14x12, porque não? Outra estratégia, seria adotar aquelas regras infantis. Rebatida vale dois, bateu na trave e entrou vale três. Criaria toda uma emoção. “Agora, para ganhar a partida, o Palmeiras precisa de um gol de rebatida com a bola batendo na trave!”. Bem, sendo o Palmeiras, é claro que isso não aconteceria.

O incentivo político também pode ser importante. Para isso, nada melhor do que agradar as leis norte-americanas. Os juízes teriam poderes ilimitados. A qualquer momento do jogo ele poderia decidir que aconteceu uma falta. Se um jogador tem que ser expulso, preso, deportado para Guantánamo, acusado de conspiração e colaboração com os terroristas comunistas. Sem justificativa na súmula.

E ao invés do exame antidoping, dois jogadores de cada time teriam seus iPods confiscados. Se forem encontradas músicas baixadas ilegalmente, o jogador é preso, o time rebaixado e o Julian Assange recebe um tapa na nuca.

Outras idéias poderiam ser colocadas em ação. Os jogos poderiam ser disputados em campos ovais. Os jogadores poderiam derrubar seus adversários no chão, antes de acertar a bola na cesta com um pedaço de madeira. Sabe como é, o mercado americano é importante.
E cheerleaders, claro.

Comentários

Anônimo disse…
rapaz, se fosse assim um flaXflu hein...