A Busca do Brasil pelo Oscar

Pense bem. Tudo começou errado. O primeiro filme brasileiro que concorreu ao Oscar foi “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte em 1962. O primeiro de muitos fracassos de nossa nação no Oscar. Pense bem, se um filme de um cara que carrega uma cruz não ganhou o Oscar, nenhum outro jamais ganhará. Se o cara carregou uma cruz e perdeu, não vai ser escrevendo cartas que vai ganhar.

Nos anos 90, tivemos uma série de filmes que concorreram ao Oscar. A transmissão do prêmio ganhava ares de final de Copa do Mundo. Não tenho dúvidas que se “O Quatrilho” tivesse ganho, aquela vinheta de Brasil-il-il tocaria ao fundo. Mas, perdemos. Central do Brasil era um grande filme. Mas, havia um italiano ainda melhor. E Cidade de Deus? Tinha tudo para ganhar uma série de prêmios técnicos, mas perdeu todos. Já tivemos documentários, curtas-metragens, animações. Fracassos, fracassos, fracassos.

Carlinhos Brown foi recebido
com garrafadas
Ontem, o Brasil se uniu mais uma vez. Torceríamos por Carlinhos Brown – aquele que leva garrafadas em público – e Sérgio Mendes – que canta maravilhas sobre o Rio de Janeiro, morando em Los Angeles. Todos em busca do Oscar de melhor Canção Original, para a animação Rio (dirigida por um brasileiro, não foi sequer indicada ao Oscar, mesmo sendo uma das maiores produções do gênero em 2011).

O cenário era amplamente favorável. Havia apenas uma, uma concorrente, praticamente um mata-mata. Do outro lado estava uma canção bobinha dos Muppets. Enquanto que o nosso era um samba doido, tudo o que os gringos gostam. Era barbada para o Brasil. Não foi. Mais um fracasso. Sérgio Mendes e Carlinhos Brown se juntaram a Ary Barroso que também perdeu um Oscar de canção original em 1900 e bolinha.

Não descarto (mesmo que o Rene descarte), a hipótese de que tudo é um sadismo hollywoodiano. Eles sabem, sim, sabem que os brasileiros ficam iguais a um bando de babacas bovinos quando algum compatriota tem a chance de ganhar alguma coisa. Então, eles chamam os brasileiros para, só de sacanagem, dar um Oscar para um filme búlgaro.

Tanto é que Orfeu Negro ganhou o Oscar em 1959. Um filme falado em português, rodado no Rio de Janeiro e com atores brasileiros. Mas para os efeitos estatísticos é um filme francês, porque esta é a nacionalidade do diretor. “O Beijo da Mulher Aranha” também ganhou um Oscar, com um ator americano.

Sérgio Mendes permaneceu
em Las Vegas
A sacanagem é possível, porque não? O Martim Scorsese, por exemplo. Ele já concorreu a 400 Oscars, com uma obra-prima atrás da outra. Perdeu todas. Só ganhou uma vez, com “Os Infiltrados”, um filme de menor destaque em sua carreira. Provável que na única vez em que diziam que ele não era o favorito. É como se eles falassem “não importa o que você faça. Só vai ganhar quando nós quisermos”.

Os responsáveis pelos Academy Awards devem pensar “Vamos indicar o Scorsese, só de sacanagem. Só pra ver a cara de bunda dele quando ele perder para um filme retardado que custou 15 dólares”. Só isso explica.

O próprio caso da Meryl Streep. Ela concorreu ao Oscar 17 vezes e ontem ganhou pela terceira. Imaginem, ela perdeu 14 vezes. Por 14 vezes ela comprou um vestido bacana, caprichou na maquiagem e ficou sentada vendo os agradecimentos de outras atrizes. E o Peter O’Toole que foi nomeado oito vezes e perdeu todas? Eles chegaram à crueldade de nomeá-lo com quase 100 anos, para ele perder. Até o Nicolas Cage já ganhou e ele não.

Vejam bem, é uma posição bem confortável. Eu acho que eu faria o mesmo.

Comentários

Adérito Schneider disse…
Massa!