Um dia na vida de Caio Fernando Abreu

Somos bombardeados todos os dias por frases de Caio Fernando Abreu. Redes sociais reproduzem frases do autor e em alguns momentos, parece que elas vivem disso. Dar indiretas utilizando frases de Caio Fernando Abreu. E quem é Caio Fernando Abreu? O que ele fez? Quem foi este homem que após a sua morte subjugou autores como Drummond e Oscar Wilde no ramo de reprodução de frases bonitas e lidera com folga a categoria de palavras retuitadas?

Poderíamos apenas jogar seu nome no Google e colar sua página da Wikipédia por aqui. Mas isto não é jornalismo. Não é este o tipo de comprometimento que o blog CH3 tem com o seu público. Não, não é. Resolvemos que iríamos nos encontrar com o próprio. E explicarei como isso aconteceu, antes que os necrófilos de plantão venham nos aplaudir.

Entramos em contato com Pai Jorginho de Ogum, o senhor da humanidade. Ele virou dois copos de caninha 21, mascou uma jujuba e me convidou para uma partida de bozó. Ele sempre pedia embaixo e sempre errava. Suas capacidades no jogo de dados eram péssimas, concluí. Quando eu estava prestes a marcar um general, Jorginho fechou os olhos. Uma luz se acendeu - era Marcão pedindo uma chave de fenda. O mago das almas entrou em transe.

Logo ele me falou com uma voz diferente. "Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa". Perguntei o que era aquilo, se ele tinha virado poeta. Ele me respondeu que a ordem era desocupar lugares. Fiquei em silêncio e ele me disse que amor não resistia a tudo, que amor era jardim que se infesta de erva daninha.

Ficamos ali por meia hora. Ele a me dizer frases retuitáveis e eu a esperar. Lá pelas tantas conclui que Pai Jorginho de Ogum havia incorporado Caio Fernando Abreu. O cara é bom. Tentei conversar com o poeta, mas ele não parava de dizer que tinha tentado aprender a ser humilde e engolir os nãos que a vida o enfia goela abaixo. Depois de muito esforço ele parou de falar aquelas frases todas. Consegui marcar um dia para que eu acompanhasse a sua rotina.

Fui então até o cientista colombiano, dançarino de rumba e graduado de Haggai Alfredo Humoyhuessos. Ele me mostrou sua máquina de viagem no tempo. Um DeLorean DMC-12. Entrei dentro do carro dei partida e quando me vi estava na estrada de Santos ao lado de um cachorro sem braços. Pisquei os olhos e estava em Porto Alegre ao lado de Caio Fernando Abreu.

Ele acordou e disse para que eu não me permitisse me entristecer por nada e por ninguém. Tomou café e disse estar fazendo tudo da maneira mais bonita que ele sabia. Saiu para passear com seu cachorro e afirmou que escrever é enfiar um dedo na garganta. Antes do almoço ele se virou para mim e concluiu que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Dobrou o guardanapo e disse que tinha vontade de pedir silêncio. O pudim de leite chegou e ele reiterou que saudade é a memória do coração.

Pediu um café ao garçom, lembrando que sogra boa é que nem cerveja, gelada em cima da mesa. Assim que o café chegou Caio Fernando Abreu fez uma pausa. Proferiu que Big Brother de pobre é buraco de fechadura. E que chifre, oras, chifre é igual dentadura. Demora mas você se acostuma.

Entrou em seu carro com um adesivo escrito "nóis kpota mas num brek" e se despediu, dizendo que eu deveria apenas seguir o dinheiro. Entregou-me uma compilação de frases que ele havia dito apenas naquele dia e lembrou que ele só via dinheiro e mulher bonita na mão dos outros. Gritou Pablo Neruda e foi embora.

Procurei meu carro e não encontrei. Me encontro perdido em 1986 e as rádios não param de tocar A-HA. Se isto não é o inferno, o inferno certamente não é.

Comentários

Laíse disse…
Pô, A-HA é legal
Anônimo disse…
a-ha e peter grifin