Teoria da Numerologia Musical

O maior legado deixado pelos Power Rangers é a formação bumerangue. Aquela formação, em que o líder do grupo se posta a frente, sendo seguido por duplas que se posicionam estrategicamente um passo atrás. Certo, talvez essa formação seja uma invenção dos pássaros migratórios, mas eles usam isso apenas para voar. Existe uma grande diferença entre voar e salvar o mundo de terríveis seres de lama.

Voar quilômetros só para fugir do frio é chato. Salvar o mundo de terríveis seres de lama que soltam faísca é fundamental para a sobrevivência da humanidade. Sim, pode ser que a formação bumerangue não tenha muita influência no salvamento do planeta. Mas é ótimo para fotografias. E hoje em dia, imagem é tudo. Não adianta nada salvar o mundo, se você não souber posar que sabe.

A posição bumerangue foi amplamente adotada por grupos de pagode. Um colega meu, que não revelarei o nome por motivos óbvios, confessou certa vez ter um CD do Só Pra Contrariar. O encarte deste CD é cheio de fotos nessa formação. Liderados por Alexandre Frota, digo, Pires, os nove integrantes do grupo se postam bumeranguisticamente. Claro há uma grande diferença entre salvar o mundo e aporrinhar as pessoas. Mas isso não importa. O que importa é a imagem. O que importa são os números.

Nove. Sim, nove. Nove integrantes de um grupo de pagode. Um número suficiente para indicar formação de quadrilha. Porque são necessárias nove pessoas para fazer música ruim? Porque? Porque?

Pode se explicar que cada um toca um instrumento. Ou que esse número seja necessário para a realização das suas complexas coreografias, quando eles se apresentam em auditório com playback. Coreografia que consiste em: 1) passo lateral para a direita; 2) passo lateral para a esquerda; 3) repetir os passos, estalando os dedos da mão mais próxima ao líder do conjunto.

Esta não é a razão. O alto número de integrantes em um grupo de pagode é fruto de um paradigma da numerologia musical. Orquestras têm números determinados de músicos, porque o pagode não poderia ter? O pagode trabalha com esse paradigma numeroso, sempre ímpar. Sete ou nove, para poder formar o bumerangue.

Todas as Boy Bands que surgem tem cinco integrantes. Reparem, são cinco. Até as boy band formadas por mulheres tem cinco pessoas. Porque cinco? Porque deve ser um número bom para agrupar as mais diferentes etnias e conquistar segmentos de mercado. Um negro, um loiro, um ruivo, um oriental e um anão eunuco. Fora isso, o número impar deixa de sugerir a formação de casais, algo que ajuda a diminuir as piadinhas sobre a reputação gay das Boy Band.

No sertanejo, nós temos as duplas. Em um tempo remoto, as duplas tinham um significado. Um deles cantava e o outro tocava a viola, fazendo a segunda voz. Essa formação perdeu o sentido desde os tempos de Leandro e Leonardo. Nenhum dos dois toca nada e um deles mal cantar, canta. São acompanhados por uma banda completa que faz todo o trabalho sujo.

Para fazer sucesso no mundo sertanejo é preciso estar em uma dupla. Imaginem o jovem cantor sertanejo perambulando por bares até encontrar o seu parceiro, torcendo para que ele não tenha gonorréia. Você pode até seguir uma carreira de sucesso se o seu parceiro morrer. Mas notem, Daniel nunca foi o mesmo sem João Paulo.

Mas isso pode mudar. Graças a Luan Santana. Ele pode quebrar o paradigma numeral. Ele surge como o primeiro cantor solo sertanejo a fazer sucesso sozinho. Sim, existe Sérgio Reis, mas ele é fruto da jovem guarda.

É difícil prever o impacto disso na sociedade brasileira. Como iremos sobreviver a partir do momento em que os cantores saíam em carreira solo, duplicando o número de sucessos sertanejos? Teremos que pedir asilo político, provavelmente.

Luan Santana pode significar o que Ivete Sangalo significou para a Axé Music. Antes dela, os grupos tinham nome e sobrenome e tocavam as mesmas músicas. Existe uma espécie de domínio público no Axé. A partir do momento em que ela deixou a Banda Eva e partiu para a sua carreira solo, ela alavancou tantas outras “divas” do estilo. Ela quebrou o paradigma. Agora, cantoras têm nome e sobrenome e cantam sempre as mesmas músicas.

Em tempo, no funk não existe numerologia, apenas putaria.

Comentários

Anônimo disse…
eu tinha o cd do So pra Contrariar e achava legal as fotos com formação bumerangue... ah, não nos esqueçamos da "dupla" sertaneja 2a1, com 3 integrantes... aporrinhar as pessoas: a arte de agir luan santaniscamente
Thiago disse…
Hahahah. Hoje o 2 a 1 virou um trio de dois integrantes