Apresentação de Quadrilhas

Uma apresentação de quadrilha sempre foi um evento bobo. Um evento bobo que era ensaiado exaustivamente nas escolas. Eram horas e horas de ensaio, para que todos chegassem à perfeição na arte de desviar de cobras, pontes caídas e chuvas. Horas em que todos se perguntavam o que raios, afinal, era o anarriê.

Quadrilhas tinham um ar recreativo. Tanto que era algo que facilmente descambava para a putaria. Homem com homem, mulher com mulher, seres travestidos e alcoolizados. Não havia a menor competição no assunto. Claro, você já deve ter percebido que falamos das quadrilhas juninas. E não dos grupos que se unem para praticar atividades ilícitas. Muito menos se eles usarem roupas xadrezes.

No entanto, quadrilhas deixaram de ser apenas uma diversão. Uma diversão chata, mas diversão. Você pode até me perguntar porque eu falo sobre isso em agosto, sendo que o ápice da quadrilha ocorre em junho. Digo que é para não chamar a atenção. Digo também que eu é que mantenho este maldito blog e escolho o que faço aqui.

Em alguns lugares do nordeste, existem competições de quadrilhas. Algo que para nós, que vivemos nesse nosso mundo em que quadrilhas são apenas um evento colegial chato, é assustador. Qual a competição que pode existir em algo assim? Como eles fizeram para equiparar uma quadrilha a um desfile de escolas de samba? Existe uma ala da ponte caiu? Uma nota para o noivo e noiva? Outra pro padre? Existe enredo? A história não é sempre a mesma? Como assim?

Pois é. Eu também não sei como a coisa funciona. Já tentei entender, mas não entendi. As pessoas vêm competição naquilo lá, sorte delas, ora. Isto significa outra coisa para mim. É um traço do aumento da competitividade do ser humano. Estimulados por Max Gehringer, a humanidade quer cada vez mais estar preparada, superar adversários. Não basta fugir do pai da noiva. É preciso ser o melhor nesse quesito.

Imagino que no futuro, todos os traços culturais, rotinas, se tornarão competições. Imagino algumas.

Natal: Uma competição pelo melhor Papai Noel. Os diversos Noéis do planeta entrarão numa enorme gincana. Distribuirão presentes, beijos e abraços. Ganharão pontos por atendimentos certos. Perderão pontos por crianças chorando. Bônus por barba e cabelo verdadeiros. O ganhador ganha um... passeio de trenó pelo Ártico.

Independência: Desfile militar com jurados. Avaliarão a evolução, a qualidade e a confecção das camuflagens. O timbre dos instrumentos. A batida. A sincronização da marcha.

Réveillon: Fogos? Não bastarão apenas fogos. Grupos organizarão seus próprios foguetórios que se transformarão em super produções. A sincronia, as cores, a altura. A trilha sonora. Poderão ser utilizados homens suspensos no ar para acompanhar as explosões. Com o aumento dos interessados, logo o réveillon será dividido em dois dias, assim como acontece com o carnaval carioca.

Finados, Corpus Christi ou Dia de Zumbi: Competição de Zumbi Walk. A liga LZW deverá decidir a melhor data.

Páscoa: Encenações da Via Crúcis dos mais diversos grupos. Atores globais bonitões sendo disputados para o papel principal. Meninas chamando Jesus de gostoso e outras coisas.

Contribuam com outros eventos que poderão ganhar competitividade.

Comentários

Eduardo disse…
21 de abril: dentistas competem para ver quantos dentes conseguem arrancar em X minutos.
Monte o Martir: a gincana do esquartejamento atrai grupos diversos tentando achar as partes do corpo espalhadas pela cidade. Nessa modalidade um boneco é usado.