À Moda da Casa

O catupiry é um queijo que não é um queijo. Na verdade ele é um tipo de requeijão cremoso. Mas, por algum mistério da humanidade, ele passou a ser tratado e denominado como um tipo de queijo, presente até em pizzas quatro queijos. Ele é um conhecido nosso de cada dia. Presentes em diversas receitas, dos mais variados tipos.

Quando alguém resolve colocar catupiry em uma receita, ele não pensa apenas nos possíveis prazeres culinários que o não-queijo poderá proporcionar àqueles que degustarão o prato. O catupiry é um grande e notório elemento de enrolação culinária. Quando uma comida parece não estar com uma cara muito boa, basta entupi-la de catupiry, que ela logo ganhará uma aparência melhor e cremosa.

Não é a toa que este cidadão é uma das estrelas das pizzas à moda da casa, ou simplesmente “à moda” para os íntimos. Perceba que sempre que você pedir uma pizza desse “sabor” ele estará presente. Junto com, possivelmente, presunto, mussarela, calabresa, ervilha, milho, palmito, molho de tomate, ovo, cebola, bacon, peito de peru, champignon, rúcula, alcachofra, ponta de unha, frango desfiado, banana, bituca de cigarro e orégano.

Tal combinação só é possível, porque muitas pizzarias se utilizam do perverso expediente de cobrir essa maçaroca toda com queijo derretido, ou mesmo com o famoso catupiry.

Existe um fato curioso a respeito dessas pizzas. Quando se fala em algo à moda da casa, se imagina que cada lugar teria uma receita especial para sua fabricação. Um orégano típico da Macedônia, ou um tomate que é plantado dentro do banheiro da pizzaria Don Manolo. Ou quem sabe o cuspe saboroso do chefe Claudinho.

Mas, muito pelo contrário. Essa pizza é uma estratégia interessante das empresas. Elas utilizam tudo o que existe dentro da dispensa e até mesmo fora dela. Tudo, absolutamente tudo, o que é utilizado em todas as outras pizzas da casa. Assim, ela evita que esses ingredientes apodreçam, empurrando-os para os clientes. Estes, por sua vez, ao bater o olho naquela lista de coisas que, isoladamente, parecem saborosas, são induzidos a acreditar que juntos, eles formarão algo ainda melhor. Mero engano. É tudo um misturadão gorduroso. E, os clientes jamais poderão reclamar que faltou ovo na pizza. Seria impossível perceber sua ausência.

Acho que nos últimos tempos, surgiram pastéis a moda da casa. Que também se utilizam da mesma estratégia da pizza. Aqui em Cuiabá existiam os sanduíches conhecidos como “baguncinha”. Um nome muito melhor que o insosso “x-tudo” e, por aqui, uma versão econômica do x-bagunça. Um baguncinha tinha pão, hambúrguer, queijo, presunto, bacon, salsicha, lingüiça, ovo e o que mais couber na imaginação humana. E custavam apenas um real. Bons tempos.

Essa estratégia poderia chegar a feijoada, porque não? Mergulhado naquele feijão estaria um porco inteiro, em partes claro. Rabo, pé, orelha, olho, cérebro, vísceras e até mesmo o famoso tobinha. E eles seriam cobertos por farinha. Uma vez que a farinha tem uma função próxima ao catupiry. Se a comida está ruim, enfia farinha no meio.

Ou até mesmo um sorvete a moda da casa, claro. Os mais variados sabores, cobertos de leite condensado – o catupiry dos doces. E chegaríamos até o pedreiro Marcão, num texto à moda da casa do CH3 ele não poderia faltar, com o seu famoso risoto leblonense. Se você não sabe do que se trata, pesquise “leblonense” ali em cima. Mas, faça por conta própria e assuma o risco.

Comentários

Eduardo disse…
Eu nem sei se a pizza a moda da casa tem sempre o mesmo saber a cada semana nas pizzarias. Dizem q ela é feita da sobra das outras pizzas também.