Os viciados em Paciência Spider

Roberson tem 28 anos. Tinha 14 quando seu pai comprou o primeiro computador da casa. Nessa época, o acesso a internet era restrito. A sua maior diversão com a máquina eram os joguinhos. Roberson gastava horas com Campo Minado e Freecel, mas mantinha sua vida. Sua ruína começou em 2003, quando chegou em sua casa uma nova máquina, equipada com Windows XP.

O novo equipamento tinha um jogo estranho, chamado Paciência Spider. Certo dia Roberson tentou jogá-lo. E nunca mais parou. Abandonou o convívio social. Certa vez ele jogou durante 80 horas seguidas. Só parou quando teve um colapso nervoso que o levou até o hospital. De onde fugiu para retornar ao seu computador.

Roberson não conseguiu passar no vestibular. Parou de estudar e só parava de jogar quando o sono o vencia. Tem vários dados em sua memória, como suas 8109 vitórias consecutivas no nível difícil.

Ao completar 25 anos o pai deu a ele um ultimato. Ou arrumava algo a fazer, ou seria expulso de casa. Dois dias depois ele saiu sem nada pelo portão. Foi morar na rua. Tinha crises nervosas. Sonhava com valetes, reis e ases se amontoando. Se retorcia e chorava compulsivamente. Chegou a pensar no suicídio, mas a vontade de jogar era maior.

Começou a se prostituir. Tudo para conseguir quaisquer dez reais que o permitissem utilizar a lan house por algumas horas. No meio de estudantes, pedófilos e viciados em jogos de guerra, ele jogava Paciência Spider até que o dono o expulsasse. Foi preso ao tentar esfaqueá-lo. Na prisão, tomou banho pela primeira vez em três anos. E sua saúde piorava. Imaginavam que eram apenas crises nervosas, até que ele foi diagnosticado com AIDS.

De volta as ruas, passou a cuidar de carros. Arrumou confusão com outro grupo de guardadores e foi espancado. Levado ao hospital, contou sua história, que comoveu enfermeiras. Ele então passou a receber ajuda especializada.

Roberson agora vive em um Centro de Reabilitação de Viciados em Paciência Spider (CRVPS). Realiza atividades recreativas e passa por um processo de desintoxicação. Lá, conheceu outras pessoas com histórias iguais a sua. Caso de Ana Carla de 23 anos, Antônio de 25 ou mesmo Agenor de 58. O trabalho do CRVPS é complicado. O sistema é todo manual, já que nenhum computador entra no local, para evitar recaídas. Dedetizações são constantes, para evitar aranhas e memórias ruins.

É uma nova vida, uma nova oportunidade que aparece para Roberson. Agora ele sonha em voltar para casa e conquistar um emprego. De preferência, alguma atividade que evite o contato com computadores. Ele se diz esperançoso, pelo fato de pela primeira vez na vida enxergar um futuro.

Comentários

Manoel Alves disse…
E eu pensando que estava viciado com minhas 460 vitórias consecutivas.