O dia da verdade

Passou-se o primeiro de Abril. Você não conseguiu encaixar nenhuma mentira e foi enganado algumas vezes. Toda notícia que lhe era dada te confundia. Você perdia minutos preciosos avaliando a postura corporal do seu oponente, para ver se ele mentia. E você torcia para não morrer. Se há um péssimo dia para ter uma morte fulminante, esse dia é o primeiro de abril.

Agora, sua vida volta ao normal. A partir de hoje você pode contar mentiras livremente, sem admitir que elas foram fruto do primeiro de abril. As mentiras podem voltar a ser algo natural no seu cotidiano. Pois, bom mesmo, seria se depois do primeiro de abril, viesse o segundo de abril. Aliás, o segundo de abril sempre vem depois. Bom seria se este fosse o dia da verdade.

Um dia em que as pessoas teriam que dizer a verdade. Seria bom não atender telefones, não sair de casa, para não ser obrigado a dizer a verdade. Pois este seria um dia completamente devastador.

1) Devastando as relações amorosas
- Amor, você já me traiu?
- Já.
- Como assim?
- Trai, ué. Com a Carmem lá do escritório. Ela me deu mole, eu fui.
- Que decepção.
- Mas é a verdade. E você, já me traiu?
- Nunca. Mas eu gostaria. Porque você é péssimo de cama.
- Ahn?
- Sim. Você é péssimo.

2) Devastando as relações pessoais.
- Pô cara, você não me atendeu.
- Sim, você é chato pra cacete.
- Eu que sou chato? Já reparou que eu sou a única pessoa que liga para você!
- É...
- Porra, você é insuportável. Eu só falo com você porque você tem dinheiro e me arruma umas caronas.

3) No trabalho¬
- Antônio, o seu relatório está uma merda. Como sempre, para variar.
- Ah, você fala isso como se você não fosse um vagabundo que fica o dia inteiro dando ordens e não faz porra nenhuma para ajudar a empresa.
- Eu sou o chefe. E você está demitido.
- E eu já comi sua mulher. E sua filha também. Ao mesmo tempo.

4) Nas relações profissionais
- Ola senhor, posso te ajudar em alguma coisa?
- Bem, eu queria passar a mão nos seus peitos.
- Tarado! Sai da loja.
Segue-se um linchamento.

5) Na fila do pão
- Quantos pães senhor?
- Seis. Mas vê se pega uns pães bons, porque ultimamente anda uma merda.
- Pode deixar. Que eu vou pegar os piores pães possíveis.
- Vou reclamar com sua chefe.
- E eu vou cuspir na sua cara.

6) Nos Jornais
- Prefeito, porque tantos buracos na rua?
- Bem... é que houve um redimensionamento do orçamento anual e nós estamos passando por um período de adaptação dos nossos recursos e re-planejamento dos horários de trabalho, mas tão logo este período se encerre, estaremos com nossa equipe estudando e fazendo os trabalhos necessários. Ok, é porque eu desviei o dinheiro todo para a minha conta. Fazer o que, se a população é burra e vota em mim?

7) Na vida pública.
- Deputado, porque tanto ódio pelos homossexuais?
- Porque eu queria ser um! Na adolescência eu era apaixonado pelo Robertão, zagueiro do time da escola, mas meu pai me deu uma surra e eu vivo enrustido desde então.

Pois é. Nada seria como está.

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