As partes do e-mail

A humanidade falha. Nós conseguimos enviar o ser humano para a lua (apesar de alguns duvidarem), mas não conseguimos construir uma fôrma de gelo eficiente, que solte os cubos sem pancadas. O ser humano, enquanto indivíduo, também é frágil e falho. Temos mentes que criam robôs, remédios e rimas. Mas ninguém, repito, ninguém, jamais saberá como escrever um e-mail perfeitamente.

É um problema digno da modernidade. Na época das cartas essa complicação inexistia. Mas, isso não significa que tenhamos involuído. Cartas eram mais simples. Elas representavam uma abordagem distante, esporádica, pessoal. A carta era escrita para alguém que estava longe, para falar sobre a vida. Tal qual pessoas que não se vêem há muito tempo, a carta começa com um cumprimento e termina com uma despedida. Existia uma formalidade e um padrão em sua construção, que era ensinada nos colégios.

O e-mail é diferente. Mandamos e-mails para pessoas que encontraremos logo mais, que não encontraremos nunca, que queremos encontrar. E-mails para amigos, colegas, desconhecidos. Pessoas que conhecemos bem ou que nunca vimos antes. E essas correspondências podem ser lidas no mesmo momento em que você a enviou.

Quando o destinatário é bem conhecido, a questão é mais fácil. Tem a informalidade do dia-a-dia. Mas, quando mandamos o e-mail para um desconhecido, ou uma pessoa com quem mantemos certa distância, tudo se torna mais complicado.

O e-mail transita num perigoso meio termo entre o formal e o coloquial. Não sabemos que modo usar, mas sabemos que o e-mail é comprometedor. Mostre-me seus e-mails que direi quem és. Tudo o que você escrever na aproximação eletrônica irá ajudar o destinatário a traçar o seu perfil e te estereotipar. Irá fazer ele definir se deve ou não atender o objetivo da comunicação. Um e-mail pode acabar com sua vida.

O primeiro e difícil passo é o título. Na era das cartas, a humanidade não sofria com esse dilema. Mas, no e-mail você precisa fazer isso. Um e-mail sem assunto poderá ser tratado como um spam ou como desleixo. Poderá passar em branco na caixa de entrada alheia.

E como escrever esse título? Você precisa resumir suas intenções sem ser monossilábico, muito menos deveras prolixo. Uma palavra apenas pode restringir demais o assunto e demonstrar insegurança. Já um amontoado de palavras pode simbolizar confusão mental. Utilizar “sobre” não ajuda, porque é uma redundância. O título perfeito é um mistério indissolúvel como as águas do Mar Vermelho.

Depois, temos a abordagem inicial. Devemos começar com um Olá? Com algum cumprimento? Devemos perguntar se a pessoa está bem? Colocar um “Caro Fulano” preparando a alma da pessoa para a embromação a seguir? Ou devemos ir direto ao assunto? Como se já tivéssemos mantido contato diversas vezes antes.

Mas, como tudo na vida, o pior fica para o final. O fim do e-mail. A última linha antes de clicar em enviar. É uma situação tão difícil que nem MacGyver com acesso a uma loja de materiais de construção conseguiria resolver. Você deve mandar abraços? Beijos? Tapas no ombro e acenos consentidos com a cabeça? Deverá se dizer grato? Grato porque? Agradecer a atenção previamente? Não sei, ninguém jamais saberá. A humanidade não estará preparada para esta dúvida, jamais.

Grato, Guilherme.

Comentários

Vilma disse…
Adorei seu texto...

É sério e humorístico ao mesmo tempo.

Vilma - Blumenau/SC