Grandes Letras Clássicas da Música Brasileira (III)

Funk

Foi no verão de 2001. Pela primeira vez o funk ascendeu ao cenário mainstream nacional. O Bonde do Tigrão tocou no palco do Domingão do Faustão. Com suas danças sensuais e letras que deixavam de lado a sutileza/infantilidade do axé. O pênis, o sexo, a submissão feminina, todos estavam mais explicitados nas letras do funk. O CH3 analisa agora algumas das principais letras do movimento que abalou as estruturas do Brasil em 2001. Em termos de marco histórico, o Bonde do Tigrão foi o nosso 11 de setembro.

Bonde do Tigrão – Cerol na Mão
“Quer dançar, quer dançar? O tigrão vai te ensinar. Vou passar cerol na mão, assim. Vou cortar você na mão, vou sim. Vou aparar pela rabiola, assim. Vou trazer você pra mim, vou sim. Eu vou cortar você na mão, vou mostrar que sou tigrão, vou te dar muita pressão, então martela, martela o martelão”.

Neste verdadeiro tormento musicado, o funk mostrava a sua cara. As metáforas para o sexo foram substituídas por uma alusão ao sexo anal. Há uma certa confusão entre o real e o virtual nesta canção. A alusão contida na rabiola, se confunde facilmente com a lúdica brincadeira de empinar pipa, graças a presença do cerol. Há controvérsias sobre uma influência do trecho “te dar pressão e cortar você na mão” no caso Bruno.

(Trad.) – Tapinha
"Dói, um tapinha não dói. Um tapinha não dói. Um tapinha não dói. Só um tapinha".

No funk não existe lógica. Não existem rimas, versos, encaminhamento de idéias. Um tapinha não dói e nada mais. Existem versos para esse refrão, mas ninguém entende e, o que eles dizem não importam nem um pouco. Poderiam ser versos sobre os Direitos Humanos. Todo o sentido é contido apenas no refrão, repetido exaustivamente.

MC Serginho – Éguinha Pocotó
“Vou mandando um beijinho, pra filhinha e pra vovó. Só não posso me esquecer da minha éguinha pocotó. Pocotó. Pocotó. Pocotó. Minha Éguinha Pocotó”.

Foi um segundo momento do funk, quando, depois de um breve esquecimento, ele voltou para ficar. Graças a esse maldito MC Serginho e sua companheira lacraia. A letra bucólica nos lembra de temas parnasianos. A vida no campo, a saudade da Éguinha Pocotó. Éguinha Pocotó está para MC Serginho, tal qual Marília estava para Dirceu.

Chatuba de Mesquita
“Máquina de sexo, eu transo igual um animal. A chatuba de Mesquita, o bonde do sexo anal. Muleque playboy. Funkero sexo anal. A Chatuba de Mesquita come as mina de geral. Andamos de redley, viemos pegar mulher. A chatuba de Mesquita, o bonde do Nike Air. Chatuba come cu e depois come xereca. Ranca cabaço, é o bonde dos careca”.

A popularização do gênero fez com que as pessoas descobrissem a verdadeira origem do funk, uma espécie de folk-funk. E no início o funk era apenas isso: putaria. Como é demonstrado nos versos. Sexo descontrolado e exibição de dinheiro em uma interpretação vocal emocionada e inesquecível. Eles poderiam ser os nossos 50 cent. Se não fosse pelo fato de terem morrido, quando foram baleados.

Gaiola das Popozudas – Quero te dar
Tá difícil de controlar
Há mais de uma semana
Que tento me segurar
Eu quero te Dar. Da-dar
Da-da-da-da-da-dadar

Uma métrica perfeita. De fazer inveja as Lusíadas de Camões.

Bola de Fogo – Atoladinha
“Sou eu, Bola de Fogo e o calor tá de matar. Vai ser na praia da Barra que uma moda eu vou lançar.
- Vai me enterrar na areia?
- Não, não, vou atolar!”

O sexo surge tanto na metáfora de “atolar na areia”, quanto na passagem do mundo infantil para o adulto, quando a brincadeira de enterrar na areia é deixada para trás. A canção mostra um diálogo na forma de um dueto, mostrando toda a expansão artística do morro carioca.

Tati quebra Barraco – Siririca
(Conteúdo censurado pelo nosso editor Alfredo Chagas).

Tudo de mais obsceno que já foi cantado em português.

Com a popularização do funk de raiz, conhecido agora como “Proibidão”, a vertente comercial perdeu seu espaço na mídia tradicional. Fruto da globalização e do avanço da internet e dos downloads, o ouvinte não precisa mais da rádio para escutar a música e, sim, busca ele mesmo o que quer escutar. Longe da grande mídia por questões conservadoras, o funk resiste agora em festas e baladas noturnas. Esperamos que em breve ele resista apenas no CDC de Atlanta.

Comentários

Andreza disse…
Muito boa a comparação entre a eguinha e Marília de Dirceu. Apesar de coitada da Marília, né. ahahah Eu lembro da lacraia. Todo mundo falava da lacraia no primeiro ano. E lembro também que teve algum processo judicial na época por causa da música do tapinha, discutida inclusive por Márcia Tiburi em um programa do Saia Justa. As letras supracitadas são da ordem do horror.