Sobre os nomes dos produtos de limpeza

Esses dias eu fui tomar banho. Caso você não saiba, tomar banho é um ato normal, praticado diariamente por diversos seres humanos ao redor do mundo. Existem aqueles que fazem isso com uma freqüência menor, mas estes têm mau cheiro. Outros seres vivos também gostam de tomar banho, de maneiras diferentes, mas com propósitos semelhantes. Portanto, não há nada de estranho no meu ato.

Fui então pegar um sabonete. Isto também é normal, comum e etc. O estranhamento veio na hora em que eu fui pegar o sabonete. Nada no sabonete em si. O problema era o nome do sabonete.

Na minha infância, lembro que os produtos de limpeza tinham nomes comuns. Os sabonetes vinham com cheiro de morango, um com um genérico “flores”. Mas no geral os sabonetes tinham um inconfundível cheiro de sabonete. Alguns eram azuis, outros eram vermelhos, outros verdes, amarelos. Produtos de limpeza tinham cheiro de lavanda, pinheiro ou eucalipto.

De um tempo pra cá, eu comecei a perceber que os nomes foram mudando, ganhando um ar bucólico. Um que de poético indefinido. Vi certa vez um desodorizador com fragrância de “Manhã no campo”. Bucólico, não? Ah, o cheiro da manhã no campo! Você já esteve numa manhã no campo? Talvez já. Mas você se lembra o cheiro? O capim na sua perna, as vacas pastando e defecando. Qualquer coisa poderia ser vendida como cheiro de manhã no campo. Dificilmente em sua memória olfativa você teria alguma base de comparação.

Volto então ao meu sabonete. Seu nome era “Delícia de Macadâmia”. Caso você não saiba, Macadâmia, como a conhecemos é a semente do fruto de uma nogueira. Uma espécie de noz comestível. O gosto é simpático, lembra as nozes que comemos na época de natal, só que menos seca. E ainda mais dura de ser quebrada. Certa vez quase quebrei a porta da casa de um parente, tentando quebrá-la. Consegui a muito custo parti-la com uma marreta. Mas já estava quase pegando um maçarico.

Delícia de Macadâmia. Na hora quase desembrulhei o sabonete pra comer. Isso pra mim é nome de sobremesa. Existem algumas sobremesas arrogantes e cheias de si, que têm nomes parecidos. Mas era um sabonete. Eu não me lembro de macadâmias com um cheiro tão forte assim, que seu aroma pudesse ser eternizado.

Vi outro sabonete cujo nome era “Degusta-me”. Aí então eu fiquei intrigado. Quase que o coloquei no meio do pão pra comer. Era um sabonete com gosto, digo, feito a base de vinho. Era só pegar um xampu a base de queijos finos para ter uma degustação completa. Ao que eu saiba, só é possível degustar com a boca. Não entendi que efeitos sinestésicos esse sabonete pretende. Ou o que os publicitários pretendem com esses nomes, mas imagino que coisa boa não é. Daqui a pouco vai ter comida que promete visões do paraíso. Revistas pornográficas com páginas texturizadas, perfumes com sons do coração.

Entrei no site da fabricante dos sabonetes (no caso, Lux). Havia um misterioso “Primeiro beijo”. Ele te prepara para um banho tão especial como o seu primeiro beijo. O preferido dos motéis. Havia o “Energia de Guaraná”, bom para lavar seu corpo depois de ir à academia. E pra completar “Buque de Sonhos” – você realizando os seus sonhos. Tudo isso durante seu banho. Imaginei sonhos dispostos e amarrados em buque. Ou melhor, não consegui imaginar.

E para concluir. Não é possível que sabonetes sejam tão importantes assim. Tomar banho é legal – e o CH3 recomenda o ato, desde que praticado com consciência – mas não é assim, uma realização de sonhos, uma memória eterna. Justamente porque é um ato normal. Você se lembra de um banho inesquecível? Ou de um sabonete preferido? E no fundo, você nem repara no nome do sabonete. Você escolhe uma meia dúzia aleatória na gôndola do mercado, por conta da cor.

Comentários

Gressana disse…
Eu normalmente escolho o mais barato sem olhar. Eu não olho justamente para não dar um nó no meu cérebro com aromas que lembram sabores. Isso acaba até estragando o banho.
Anônimo disse…
Eu gosto da hora do banho. Fico exitado com a idéia da mulher do xampu me vendo pelado.
MANGABEIRA disse…
A minha irmã recentemente me alertou sobre os nomes das cores de esmalte.
Obviamente algo que eu nunca notaria.
Esses sim ainda são mais esdrúxulos que os de sabonetes e desodorizadores.