Profissões desgraçantes – dublê

Pode até ser que o dublê seja um cara bem legal. Não sei se ele não pode ver mulher, se ele já pede pra baixa e se ela quer parar e ele não quer. O fato é que a profissão de dublê é uma profissão desgraçante. Existem pelo menos dois grandes motivos para isso: o risco e a falta de reconhecimento.

Claro, a profissão de dublê existe justamente para correr riscos. A essência da existência desta profissão está justamente em realizar tarefas que uma pessoa normal não faria. Cabe ao dublê dirigir velozmente carros em chamas, pular de helicópteros, saltar sobre trens em movimentos, rastejar por corredores infestados por insetos repugnantes. Fazer aquilo que um ator famoso não faria, sob o risco de ganhar uma cicatriz. O ator não pode morrer, o dublê, tanto faz.

Convenhamos que não é a profissão dos sonhos de ninguém. Muito provavalmente, você preferiria estar tomando água de coco em Jericoacoara, andando de gôndolas em Veneza ou até mesmo discutindo filosofia em um café parisiense esfumaçado.

Existem também os dublês de corpo. Aqueles que aparecem apenas nas cenas de nudez ou, como no caso do filme Tróia, substituindo as pernas do Brad Pitt. Funciona mais ou menos assim: as pessoas pensam “que corpaço da Flávia Alessandra!” e na verdade era a dublê. E a dublê, coitada, ninguém teria sonhos com ela.

Começamos ai a entrar no segundo fator desgraçante da profissão. A falta de reconhecimento pode vir nas ruas. Ninguém irá correr para pedir um autografo de um dublê “olha, aquele cara é o dublê daquela cena em que oito caminhões explodem e um cara passa com uma moto entre as chamas!”. E falta o reconhecimento monetário.

Numa cena de novela, o galã Reynaldo Gianecchini acorda assustado com um barulho na parte de baixo da sua casa. Atordoado, ele tropeça e rola escada abaixo. Ferido quase mortalmente ele é socorrido por Juliana Paes em trajes de banho. Os dois se beijam longamente.

É claro que Gianecchini não rolou escada baixo, quem fez isso foi o dublê. O trabalho fica dividido mais ou menos assim.
Reynaldo Gianecchini: Fez uma cara de susto pouco convincente e depois interpretou muito mau a cena em que estava ferido. Ganhou um beijo da Juliana Paes e 150 mil reais por mês. Saí nas ruas e provoca histeria coletiva.
Dublê: Rolou escada abaixo de maneira que todos pensassem que era o ator principal rolando. Ganhou 150 reais pela cena e tem que esperar na fila do banco.

Em suma, são os dublês que fazem todo o trabalho duro. Eles estão sempre por trás da criação de tantos mitos e tantos Vin Diesels da vida. São eles que se estrepam para fazer aquela cena espetacular. E o nome deles é capaz de não aparecer nem nos créditos.

Comentários

Zoi de Tandera disse…
Nem deve ser tão ruim ser dublê.

Alguns atores se recusam a fazer cenas onde tenham que ficar seminus, tipo cenas de sexo, aí são chamados os "dublês-de-corpo" para substituí-los.

Olha que beleza, ganhar dinheiro pra ficar sarrando atrizes gostosas pq o ator supostamente machão e pegador não quis! UAHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUAHUAHUAH
waltinho disse…
rsrsrsrsrsrs !! Gostei muito da matéria, perfeita, sou dublê e coordenador de ação (waltinho dublê), em muitos casos é exatamente assim que acontece, parabéns !!