Charlize, que saudade!

Foi uma decepção muito grande. Por anos e por anos eu escutei aquela música: “Na madrugada a vitrola rolando um blues, trocando de biquíni sem parar. Sinto por dentro uma força vibrando uma luz, a energia que emana de todo o prazer”.

A letra tinha um quê de surrealismo. A vitrola tocando blues, trocando de biquíni sem parar. Quem trocava de biquíni? A vitrola? E porque alguém trocaria de biquíni, assim, sem parar? E essa troca toda faria o eu poético sentir a força vibrando uma luz? A música falava sobre sexo, provavelmente. Mesmo sem entender que fetiche exótico é esse que exige trocas constantes de trajes de banho.

Veio então a decepção. Não havia troca de biquíni. Na verdade a letra de Claudio Zoli dizia “na madrugada a vitrola rolando um blues, tocando BB King sem parar”. Apenas isso. A vitrola tocava BB King, o blues que rolava sem parar. Todo o misticismo pornográfico da letra ficava de lado. Era uma frase redundante e inútil. Estava ali apenas para encher lingüiça.

Sei que não fui o único a me decepcionar. Várias pessoas passaram por isso. A miséria interna de se sentir enganado por tantos anos. Até hoje ainda tenho o sonho de ir a um show do Cláudio Zoli apenas para cantar “trocando de biquíni”. Mentira. Não tenho esse sonho e, na verdade, se eu visse Zoli na rua, não reconheceria.

Sei de um amigo que também se decepcionou ao descobrir que Alcione cantava “Você é um negão de tirar o chapéu, não posso dar mole se não você créu, Me ganha na manha e babau leva o meu coração” ao invés de “me ganha mamãe e papai leva o meu coração”.

Para mim, isso foi muito estranho. Primeiro, porque eu jamais imaginei essa letra. E também, porque eu me decepciono toda vez que escuto essa música. Sinto uma certa vergonha da senhora Alcione cantando “É só melanina cheirando a paixão”.

Normalmente essa associação é feita por crianças. Sabe como é, crianças são meio abobadas, confundem um pouco a imaginação com a realidade, e escutam na letra da música o que ela quer. Então essa associação fica presente na cabeça durante anos e anos até o momento da decepção.

E isso é ainda mais normal nas músicas em inglês. Você demora um tempão até perceber que as palavras em inglês são diferentes do português. Por isso tantas pessoas entendiam Joe Strummer cantando “Charlize que saudade!” ao invés de “The sheriff don’t like it”. No refrão de Rock The Casbah.

E há o outro lado. Quando você nunca percebeu a falsa cognata. É um momento de riso empolgado, que substituí toda a frustração do momento do biquíni.

“Feche os olhos ahhh e vai enxugar o peixe”. Procure escutar Eyes Without a Face do Billy Idol. No refrão que mistura francês com inglês (Les yeux sans visage – Eyes without a face), você poderá escutar ele mandando alguém fechar os olhos e enxugar o peixe.

Ou então a melhor de todas. O Metallica, que está no Brasil. Um de seus clássicos, a música The Unforgiven tem os irônicos versos, a lá Mussum, “deitei aqui peladis”. Ok, o correto é “Their dedicated their lives”. Mas o peladis é muito melhor. Compensou toda a minha frustração biquinesca.

Comentários

Ana Luiza disse…
Na do Billy Idol em vez de "vai enxugar o peixe", eu achava que era "ajudar vocêshhh". No caso, o Billy Idol seria carioca.