Get up, Stand up

Por anos a comédia Stand Up teve sua circulação restringida ao território dos Estados Unidos. Aqui no Brasil nós poderíamos nos referir a esse gênero humorístico como “aquele humor sem graça que os americanos fazem”.

No entanto, a influência do Seinfield e de outros programas que passam na TV paga, propiciou uma invasão Stand Up de um tempo pra cá. Nas ruas, nas fazendas ou nas casinhas de sapê, o Stand Up Comedy dominou o país. Incentivados por vários programas de TV e outros formadores de opinião, formou-se em nosso solo uma geração de pessoas que ficam contando piadas em pé, com direito a pausa para que a platéia ria.

Vários desses humoristas contam piadas que nós costumavamos a escutar nos churrascos que fazemos com os amigos. Algumas são engraçadas, sem dúvida. Mas eles cobram 50 reais em média para contar essas piadas. Pagar 50 reais em um show de Stand Up é algo que beira o absurdo. Não há gasto com produção. Não há cenário, não há figurino, não há sonoplasta. Só se paga pro porteiro abrir as portas do lugar e pra acender as luzes.

Nesse aspecto, a comédia Stand Up demonstra uma clara desvantagem em relação ao churrasco. Que geralmente é pago com uma cota de 10 reais (pode chegar a 15, caso o organizador pretenda se arrumar na vida) e ainda tem carne, cerveja e música, por mais vagabunda que ela possa ser. Existe um retorno ao dinheiro investido. E dura mais do que uma hora e meia.

Ok, veio essa geração toda do CQC fazendo humor em pé. Mas até aí é vida deles. Se eles não fizessem isso, ninguém nem ia se lembrar da existência deles. Só que o sucesso deles fez com que o mundo inteiro passasse a fazer comédia Stand Up.

Sérgio Mallandro, aquele que eternizou versos como “vem meu amor, vem meu chuchu, vem bem pertinho, fazer gluglu, gluglu pra mim, gluglu pra tu” e o bordão “Rá! Pegadinha do Mallandro!”, além de ter revelado toda uma geração de atrizes pornôs. Sim, ele mesmo. Começou a fazer comédia Stand Up. Ontem assisti a um programa na televisão onde o Eri Johnson (por céus!) estava fazendo uma apresentação em estilo Stand Up. Para piorar, depois foi a vez de o presidente Lula fazer uma incursão pelo gênero. O presidente foi contar a platéia presente na entrega do prêmio Brasil Olímpico, a sua saga em Copenhagen durante a escolha do Brasil como sede para as Olimpíadas de 2016.

Lula fez voz de justiça, emendou uma série de piadas em sua fala, brincava com pessoas na platéia e fazia inclusive pausas para que o público risse. Depois desse discurso já é possível vislumbrar a carreira do presidente quando ele se aposentar no final do ano que vem.

O pior do Stand Up, é que a popularização do gênero acaba por transformar qualquer discurso, qualquer declaração, qualquer pronunciamento, mesmo que seja apenas instrutivo, em um pequeno espetáculo. Os sermões dos padres são repletos de piadinhas baseadas no cotidiano. A mulher do cerimonial faz pausas para as risadas durante sua fala. Aposto que professores de cursinho imaginam que estão fazendo um show.

E sabe o que é pior? No fundo nem é tão engraçado assim. Sabemos que em breve Jô Soares, Rogério Skylab, Joel Santana e Gugu Liberato podem estar entrando no ramo. Que em breve os piadistas de churrasco subam em cima de bancos para contarem as suas boas histórias.

Mas não é tão engraçado. A piada era algo muito mais interessante na época em que ela não era ensaiada em frente ao espelho e não tinha movimentos estudados. Quando era contada em um grupo de três pessoas. Quando 500 pessoas não se reuniam para ver um cara contando piadas.

A única coisa que se pode esperar é que em breve a comédia Stand Up volte para o seu lugar de origem. Que é morta e enterrada a sete palmos nos Estados Unidos. Digo, que ela deixe de ser a moda da vez.

Comentários

Zequias disse…
Que ótimo texto Guilherme. Você está ficando bom no negócio.