O trote

Dizem que o primeiro trote do qual se tem registro é o que a cobra aplicou sobre Eva. Ofereceu a ela uma maçã, dizendo que não haveria problema. Mas este era o fruto proibido e a humanidade foi expulsa do paraíso. Outro trote lendário é o que resultou no cavalo de tróia. Um suposto presente que escondia uma surpresa indesejável.

No mundo moderno existem basicamente dois atos que são denominados como “trote”. Ou até três. Mas o terceiro se refere ao ato de trotar dos cavalos. E eu não pretendo me expandir muito em questões eqüinas nesse blog.

O primeiro é o famoso trote por telefone. Antiqüíssimo. Seu avô devia passar trote por telefone na infância. Mesmo se na época fosse preciso esperar que a telefonista transferisse a linha e o trote demorasse seis horas para ser aplicado. São os trotes clássicos, de se ligar para alguém e perguntar se lá é da padaria, do açougue, da fazenda ou se é a casa do caralho.

Essa modalidade de trote caiu um pouco em desuso por conta do advento do identificador de chamada. Em compensação existe uma nova onda de que é o trote inverso. Uma espécie de contra-ataque dos receptores. Quando alguém insiste em ligar erroneamente na sua casa, achando que na verdade é outro lugar, você sacaneia. Sei de pessoas que já marcaram reservas em hotéis, que afirmaram que a pessoa procurada pelo outro lado da linha estava morto, defecando ou tendo um romance homossexual.

Dizem até que metade das ligações para serviços de emergência são na verdade trotes. E quase sempre praticados por crianças. Uma vez passou uma na TV em que uma voz de criança de doze anos ligava para o SAMU:
- Oi, meu filho morreu aqui.
- Quantos anos você tem?
- É... hmm... 25!
- Olha, o SAMU só atende casos em que a pessoa ainda está viva.
- Ah...

Existem também programas de rádio especializados em passar trote nos outros. Basicamente é a mesma coisa que ter um programa de televisão especializado em apertar a campainha e sair correndo.

Mas o trote famoso nos tempos atuais é o da faculdade. Aquela cena que envolve calouros da universidade, farinha, tinta, ovo, vômito, bebidas alcoólicas, veteranos surtados, semáforos, bastões de beisebol, dinheiro e morte.

O assunto sempre vem a moda quando acontece alguma morte. Ou como na semana passada quando algumas calouras da UFF foram supostamente obrigadas a fazer sexo supostamente oral nos veteranos. Esse era um costume do curso de Engenharia Elétrica, mas ele foi abandonado no momento em que algumas mulheres começaram a fazer parte do curso.

O trote em geral é uma situação deplorável e lamentável. Que serve basicamente para humilhar o calouro e demonstrar algum poder. Sabe-se lá porque alguém resolveu inventar a desculpa de que o trote serve para integrar o curso.

De vez em quando para reforçar essa tese, aparece alguma ação do tipo, fazer os calouros ler poesia, um lual. Mas geralmente é só pra enganar. Primeiro vem a poesia e depois a dura realidade do asfalto quente.


E mesmo assim existem cursos, ou turmas que se orgulham de terem sofrido o maior de todos os trotes. De que todos tiveram tijolos amarrados em seus genitais, foram amordaçados, sofreram eletrochoques, beberam vomito, rolaram na merda e depois foram pedir dinheiro, descalços no asfalto em brasa. E pra completar foram estuprados. Não se faz mais trote como antigamente.

Comentários

Mariana disse…
HAHAHAAH, rolei de rir com o post!

Muito bem colocado sobre esse orgulho dos calouros "levei o maior trote da histórias de todas as universidades da galáxia", como se isso fosse muita vantagem...

Depois que dizem que calouro é bixo burro mesmo, eu sou obrigada o concordar...
Gressana disse…
Bem, se levar um grande trote é motivo de orgulho, acho que nossos calouros sentem vergonha de si mesmos.