Percepções paternas

Lembro de uma vez, se não me engano em um profissão repórter da Globo. Era um programa sobre jovens promessas do futebol brasileiro que logo vão jogar no exterior. Certa hora entrevistaram o pai do Alexandre Pato. Ele disse “percebi que meu filho seria jogador de futebol quando ele tinha três anos e eu dei uma bola pra ele e ele chutou”.

Bonito, não? Todo o sentimento, a intuição paterna que nunca falha, certo? Não. Oras, qualquer criança chuta uma bola com essa idade. Eu mesmo chutava, e o máximo que consegui foi ser reconhecido pelo padre do colégio como o melhor jogador do time numa partida das Olimpíadas da escola. E eu era o goleiro.

Até hoje só escutei um único depoimento relevante sobre bolas e intuições. Foi de um travesti num programa de televisão. Perguntaram quando ele soube que era gay e ele respondeu “quando meu pai me deu uma bola pra chutar, eu peguei no colo e ninei”.

Mas o fato é que depois que os filhos crescem e fazem sucesso, os pais começam a tentar achar nas coisas mais bobas da infância os sinais de que o futuro estava traçado. Aposto que o pai do Felipe Massa deve dizer “percebi que ele seria piloto quando ele tinha três anos e ele brincava de carrinho, e haha, acredita, ele ainda fazia o barulho dos carros!”. Ou o pai do Niemayer dizendo “percebi esse talento nele quando ele era pequeno e brincava com blocos de montar”.

Quantas pessoas não brincavam com carrinhos e depois reprovaram três vezes na prova do DETRAN? Ou que brincavam com Lego, mas não sabem desenhar uma linha reta. Ainda se o Felipe Massa com três anos soubesse tirar o carro da garagem, ou que o Niemayer tivesse feito um prédio com colheres aos dois anos.

Ou seja, esses depoimentos paternos não podem ser levados muito a sério. Certo que a imprensa adora essas coisas, mas, elas só devem ser consideradas relevantes quando forem algo parecido com os seguintes exemplos. Todos eles fictícios.

“Percebi que meu filho seria advogado quando ele tinha dois anos. Ele quebrou um carrinho dele, disse que a culpa era da empregada, juntou provas, incriminou a empregada e a fez comprar uma bicicleta como ressarcimento” – Pai de Jumar Dentes.

“Percebi que meu filho seria publicitário quando ele tinha cinco anos. Ele vendeu todos os apitinhos do aniversário dele pros amigos, por 50 reais cada um, dizendo que era possível escutar eles da lua”.

“Vi que meu filho seria jornalista quando ele era pequeno. Passou três horas estudando pra uma prova, e a prova não aconteceu. Ai ele cresceu, fez quatro anos de curso, e veja só, não serviu pra nada”.

“Percebi que meu filho seria jogador de basquete porque ele tinha 1,80 com 5 anos de idade. Quebrava um galho pra limpar o ventilador...” – Pai de Bebê Cômico.

“Ficou claro que ele seria psicólogo quando ele começou a me culpar por tudo. Ele tinha só seis anos”. – Mãe do Freud.

“Logo percebi que ele faria ciências sociais. Com cinco anos ele foi na casa do vizinho rico e distribuiu todos os carrinhos dele na vizinhança. Com seis anos, sempre que eu mandava ele tomar banho, ou escovar os dentes, ele fazia um panelaço. Com sete anos ele queimou os pneus da bicicleta dele em protesto contra o dever de casa”.

“Vi que ele ia fazer engenharia elétrica porque com 11 anos ele trocava todas as lâmpadas da casa. E depois ele colocava elas na bunda”.

“Percebi que ela seria assim, com 8 anos ela esfaqueava todas as bonecas dela” – Mãe da Nardoni.

“Percebi que meu filho faria filosofia quando ele tinha 27 anos e não tinha passado em nenhum curso vestibular”.

Comentários

Unknown disse…
ahahhahah O do jornalista foi o melhor e o mais triste... O do cientista social foi muito bom também. Você sabe que teve eleições lá pro CA esses dias e teve uma iniciativa similar a do CH3 de montar a chapa 1/2 (uma alternativa entre as chapas 1 e 2). Mas a Chapa 3 tinha propostas bem mais legais.

Andreza (Meu pai achava que eu iria ser juíza)
Maíra Matos disse…
Muito bom esse post de hoje. E coincidentemente estava lendo também uma noticia do rdnews:
http://www.rdnews.com.br/noticia.php?cod=15059
Gressana disse…
AHhaHAHahHAhahAHahHAhaHAHahAHhaHAhahAH!!!!!
Anônimo disse…
HAHHHHHHHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAH [2]