Acordando morto

São freqüentes os relatos que algumas pessoas fazem, sobre outra pessoa que teria “acordado morta”. Relatos como “ah, ele dormiu e aí... ele acordou morto”. Entre as várias maneiras de se acordar como:
- acordar com o pé esquerdo.
- acordar com sono.
- acordar com ressaca.
- acordar gripado.
Nenhum deles se compara a acordar morto. Provavelmente é a pior maneira de se acordar. Espero eu, que eu nunca acorde morto.

Fui então buscar alguns relatos sobre pessoas que acordaram mortas. Depoimentos, sabe, para dar um sentido profundo a esse texto. Infelizmente, não encontrei ninguém que já tenha tido essa experiência de ter acordado morto. Aliás, não encontrei ninguém vivo pra dizer como é acordar morto.

Só me restou uma única opção: ir conversar com pai Jorginho de Ogum. Vocês sabem, o babalorixá, que agora quer ser conhecido como o homem mais próximo de Jeová (nome do seu novo gato), costuma a fazer incorporações. Essa foi a melhor maneira que eu encontrei para trazer tais relatos.

Lá estava Jorginho de Ogum com Jeová em seu colo. Pedi que ele incorporasse alguns espíritos de pessoas que acordaram mortas. Ele disse que só o faria depois de cagar. Ele foi ao banheiro e voltou cerca de meia hora depois. Nessa meia hora joguei uma partida de pega vareta com o cão leproso.

Jorginho voltou, sentou se em sua cabana de previsões, abriu uma lista de telefônica e começou a ler rapidamente os nomes, números e endereços de empresas que recarregam cartuchos de impressoras. Em poucos minutos ele estava em transe. Falava Zeca Abreu, goiano, que acordou morto aos 41 anos. Eis o que ele disse.

“Foi um dia complicado o dia em que eu acordei morto. Dia anterior tinha ido dormir as 2 da manhã, vendo o Corujão... tava passando a mão que balança o berço...” – “muito bom” interrompeu o Cão Leproso – “... peguei um copo de água e fui dormir. E aí, enfim, acordei no dia seguinte. Acordei morto. Levantei fui tomar uma café, tomar um banho. Voltei pra minha cama e então me encontrei lá, mortão. Foi sinistro”.

Zeca foi embora, e pai Jorginho recobrou a consciência. Pegou a lista telefônica e tentou ligar para uma empresa de recarga de cartucho de impressora. Seu crédito havia acabado e ele então pediu meu celular emprestado. Recusei é claro e ele foi ligar na casa do Marcão.

Acompanhei-o para fazer o pagamento no valor de três reais e uma caneta BIC e encontrei Marcão. Marcão quis saber se eu também ia usar alguma coisa na casa dele. Falei que não, só estava pagando Jorginho. E ele me perguntou porque eu estava o pagando. E expliquei a situação. Foi ao que ele me disse.
- ah dotô, ma eu já acrodei morto uma vez, e nem preciso encorpoa exprito pra dize como foi
- E como foi?
- ah dotô, eu tava dormindo e tal e tava com peso no estrombo acho que porque do frango assado com vitrecha de pacu que eu tiha cumido na noite. Ai eu tive uns sonho cabuloso com umas parada de cara querendo me mata e nessa ai eu cai dum prispicio no sonho.
- e daí?
- ah doto, ai eu acrodei morto.

Comentários

Gressana disse…
Hahehaehaheahehaehahe!!
Falar com Jorginho é sempre uma experiência transcendental.