Alfredo!

Todos já escutaram falar de Alfredo Chagas, um cara extremamente chato que sempre aparece em momentos inoportunos para torrar a paciência. Durante certo tempo ele assinou um editorial no nosso jornal impresso, o CH3 News – até o jornal ter acabado. Reproduzo abaixo seus melhores (?) textos. Reparem que nos textos, por vezes ele deixa de lado a sua aparência radical e adota uma postura bucólica, nostálgica, circunspecta e inquietante. Vale lembrar que anos após a publicação, descobrimos que Pai Jorginho de Ogum é que digitava os textos de Alfredo, visto que ele enquanto comunista liberal abomina o uso de computadores e chuveiros.

Lembro-me bem da primeira vez em que eu comi bacon na minha vida. Era um fim de ano e a família estava reunida no sitio da minha avó, Leonora. Minhas primas corriam nuas pelo quintal e os cavalos se excitavam. Eu pensei comigo “até que é uma”. Meus pais me chamaram para tomar banho. Dentro do vaso sanitário, havia algo estranho. Resolvi chamar meu pai, e ele disse “filho, isso é bacon”. Resolvi pegar e comer. Depois disso, me tornei médico, e nunca mais mantive relações sexuais com polvos.

A verdadeira verdade por trás das mentiras
Ando passando por ai, e percebendo que muitas pessoas falam e falam, mas não falam nada. Os espaços são preenchidos por coisas abstratas, mas eu pelo menos não creio que tenha algo que possa me lembrar recentemente. Tudo o que eu queria era apenas uma porção de mandioca frita, mas os nordestinos burros me ofereciam uma tal de macaxeira. Se pudessem eu os mandava ir pastar. Oras, macacos me mordam, e tenho dito.
Por : Alfredo Chagas, colecionador de centopeiras


Uma questão de seriedade
Não adianta de nada se levar alguma coisa a sério se ela não for feita com seriedade. A falta de comprometimento torna difícil a nossa realidade. Por isso que sempre digo que a carne deve ser servida o mais bem passada possível. Afinal, podem até dizer ao contrário, mas ninguém gosta muito do sangue que fica sobrando no prato. Tem gente até que diz que gosta de comer aquilo com farofa, mas eu pelo menos acho isso deplorável. E os garçons insistem em trazer a vaca ainda mugindo. Haja paciência!
Por: Alfredo Chagas, grande fã da Noruega.

A conseqüência da inconseqüência.
Não adianta, esses jovens de hoje em dia não respeitam mais os valores que eram preservados antigamente. No meu tempo a gente só queria jogar pipa e soltar futebol. Não necessariamente nessa ordem é claro, mas hoje em dia tudo mudou. O sexo domina o mundo e isso é bom, pessoas não usam camisinha e ficam colocando crianças aidéticas nesse mundo cruel e absurdo que todos nós conhecemos. Portanto, proponho um basta para essa sociedade plantadora de mandioca. E digo que tenho dito!
Por: Alfredo Chagas, possuidor de um Fliperama.


A questão é: como comer
Não dá certo. Comer é um ato explorado midiaticamente diariamente nesse nosso cotidiano abstratamente pintado impressionista. Há quem coma com a boca, e há quem faça o contrário. Mas eu pouco me importo, sempre disse. A camisinha é essencial, por mais que a Igreja tente negar. Mas não confundam as coisas, camisinhas com mostarda não são de fácil ingestão. Há quem saiba disso, e há quem não saiba. Ousaria dizer que esse é o milagre, o mistério e o sentido da vida. Vida essa que vivemos. E tenho dito, eu digo bem dito.
Por: Alfredo Chagas, mulherzinha da cela


Questões existenciais egocêntricas do caralho
Sempre me dizem, cuidado com os palavrões, mas eu digo que eles fazem parte dessa nossa natureza humana que por sinal é algo muito natural. Há quem coma sabão, eu sei, mas isso só pode ser conseqüência de uma demência desvairada. Se há quem coma pizza de estrogonofe e defenda a sua existência, apenas digo e pergunto ao mesmo tempo em que respondo: porque não? E você pode ficar parado que eu não dou a mínima porque isso é o meu máximo. E por isso tenho dito.
Por: Alfredo Chagas, que gosta de camisas laranjas


Um exemplo de sobrevivência
As pessoas vivem sobrevivendo em nossas ruas, avenidas e principalmente calçadas, onde ninguém é atropelado. Sim, sei que existem alguns casos, mas isso é algo que foge da amplitude humana. Tem quem queria escalar o Everest, mas todos deveriam saber dos perigos, tal qual acontece com quem dança no quiabo. O mercado exige profissionais que estejam vivos, e quem quebra o paradigma é acusado de problemas intestinais ou então de problemas mentais e sexuais. Absurdo! E tenho dito.
Por: Alfredo Chagas, amigo de orangotangos


Hora de aplaudir
Passava pelas calçadas da avenida próxima a minha casa, quando percebi a existência de um maldito grupo de bolcheviques que comiam uma casquinha de sorvete. Foi ai que eu pensei com meus botões, oras, é preciso medir com a mesma régua para se ter uma opinião formada sobre o desenlace dos fatos. Do que adianta uma portentosa lagosta se você não tiver um martelo? São essas as perguntas que irei morrer fazendo e que espero humildemente ainda obter resposta um dia. Tenho dito.
Por: Alfredo Chagas, que faz dança do ventre


Dinheiro compra a Esperança
Sempre ando pelas calçadas escutando que dinheiro não compra um monte de coisas e sempre me pergunto onde as pessoas estão com as cabeças delas. É claro que o dinheiro compra Esperança, prostituta panamenha que conheci na minha infância. Se o feijão está no ponto, não temos mais muito o que fazer a não ser torcer e saborear o excêntrico gosto do tempero de sabonete. E é por isso que eu sempre digo e repetirei enquanto ainda sobrar um maldito sopro de vento em meus pulmões. E tenho dito!
Por Alfredo Chagas, ventríloquo amador

Em breve mostraremos a segunda parte das colunas do ordinário Alfredo Chagas.

Comentários

Gressana disse…
Aqueles editoriais eram sempre malditos.
E malescritos.
Até hoje não entendo como andamos com Alfredo Chagas.