Sobre nomes e bistecas

Algum dia da sua vida você vai precisar dar nome a alguma coisa. E desde que essa coisa não seja o seu filho, você precisará ser criativo. Sim, porque os nomes criativos para crianças resultam nos Wonarlevystons da vida. Deixe a criatividade para livros, filmes, discos e músicas.

O nome criativo chamará atenção o seu trabalho. Não adianta você lançar o melhor livro da história da humanidade e chamar ele de “Livro com capa vermelha”, tal qual aquelas pinturas criativamente chamadas de “Mulher com vestido verde” ou “criança brincando com bola”.

E uma das estratégias para que o seu nome pareça criativo é usar o “e”. O “e” que falamos aqui não é a quinta letra do alfabeto latino. Sim, é ele, só que na sua forma de conjunção coordenativa aditiva. Como já diz a definição, o “e” adiciona algo a mais. Ao invés de você escrever eu + você, você escreve eu e você. Ok, ficou confuso.

Existem muitas outras estratégias para se fazer um nome criativo, mas, eu vou me prender a essa. Porque, eu enquanto meu editor, escolho o que postar.
O fato é que o uso do “e” adiciona um certo mistério, uma certa dúvida sobre como os dois elementos unidos pelo “e” se unem ao longo da história. E dão uma certa poesia ao nome. Vamos aos exemplos.

O drogado e escritor Hunter Thompson tem como sua obra mais famosa “Medo e delírio em Las Vegas”. Você lê o nome e pensa “hmm... medo e delírio”. Se fosse apenas “Medo em Las Vegas” ou “Delírio em Las Vegas”, o nome não teria nada de interessante. Seria um óbvio livro sobre o medo, ou sobre o delírio. Agora, o medo e o delírio, onde é que eles se juntam em Las Vegas? Então, você resolve ler o livro.

Agora na música. O Foo Fighters lançou um disco em 2007 chamado “Echoes, Silence, Patience & Grace”. O disco basicamente é bem chato, mas tem um nome interessante.

Mas esse artifício é muito mais usado nos filmes. Um dos filmes do bom, policial durão e recentemente treinador emotivo de boxeadoras, Clint Eastwood se chama “Sobre Meninos e Lobos”. Você vê um filme com esse nome e pensa “deve ser bom”. E nesse caso, a graça do nome se deve aos tradutores, tantas vezes criticados (normalmente criticados com razão). O filme em inglês se chamava Mystic River. Ao invés de traduzirem como “O rio Mystic”, preferiram “Sobre meninos e lobos”. Meninos e Lobos. O que os meninos e lobos tem a ver. O filme é sobre meninos, e os lobos aparecem apenas como uma metáfora sutil que apenas algumas pessoas perceberão.

Foram os tradutores também que fizeram com que um filme chamado “Snatch” se transformasse em “Snatch – porcos e diamantes”. E “Ocean’s Eleven” virou “Onze homens e um segredo”. O que tem a ver os porcos com os diamantes? E que segredo é esse que os onze homens tem em comum? Viu só como a estratégia é eficiente.

E como seria se Dostoievski ao invés de intitular seu livro de “Crime e Castigo” (ou Prestuplênie i nakazánie no original) tivesse preferido “O jovem que matou e agora se sente culpado”. Não adiantaria nada.

Pensem nisso. Como é o caso do nome desse texto. Ele é sobre os nomes, e as bistecas é apenas uma metáfora sutil, que poucas pessoas vão entender.

Comentários

Gressana disse…
Eu entendi as bistecas e os diamantes.
Gressana disse…
Mas o melhor mesmo é "O escafandro e a borboleta".
Thiago Borges disse…
o próprio nome da postagem é interessante, e snach é um filme espetacular