Olavo, o estraga-prazer

Nos últimos dias o CH3 se dedicou a publicação de textos sobre a formatura. No fundo, a formatura é puro prazer. Ou quase isso. Mas hoje nós vamos mudar de assunto. Vamos falar sobre Olavo, o estraga-prazer.

Se há algo que pode ser dito sobre Olavo, é que Olavo era um estraga-prazer. Sempre foi assim, desde pequeno. Quando ele nasceu, o médico disse “esse tem cara de que é estraga-prazer”. As enfermeiras consentiram. Menos o recém-nascido que discordou. No fundo, Olavo já concordava, mas resolveu se pronunciar, apenas pra sacanear.

Na escola, Olavo contou a todos os seus colegas que Papai Noel não existia. Fez o mesmo com o Coelhinho da Páscoa. Detalhe: quando todos tinham cinco anos. Seus colegas cresceram traumatizados.

Quando todos estavam na sexta série, Olavo não sofreu. Quando seus amigos começam a contar as mais mirabolantes aventuras sexuais, ele apenas dizia “é tudo mentira. Eu sei que vocês todos são virgens. E só viram mulher pelada na playboy”.

Seus apelidos mudavam constantemente. Uma época ele era “Olavo o semgraceira” ou ainda “o sem noção”. E por aí vai. Ele, claro, corrigia a todos e dizia “nada disso. Sou apenas um estraga-prazer”.

Ser um estraga-prazer é difícil. É uma linha tênue que separa o simples ato de acabar com a graça dos outros, com a de fazer loucuras. Ou com a de ser apenas um politicamente incorreto. Claro que algumas vezes, Olavo foi sem noção. Assim como foi politicamente incorreto. Até porque, é politicamente incorreto estragar o prazer. E esse estilo de vida carrega certa falta de noção no convívio social.

No Vestibular para direito, Olavo falou para todos na sala “olha. Todo mundo aqui vai reprovar”. Pessoas começaram a chorar e, de fato, todos, exceto Olavo, reprovaram. Ele fez questão de ligar para todos seus concorrentes, dizendo “avisei que você não ia ser aprovado”.

No seu trabalho de advogado ele fazia questão de pegar casos difíceis apenas para falar “olha, você vai ser preso”.

Em suas reflexões, Olavo disse “eu não faço nada demais. Apenas digo a verdade. Infelizmente, a verdade estraga o prazer das pessoas”.

A onda do Orkut chegou, e Olavo fez o seu perfil. Ele não aceitou nenhum amigo. Falavam “oi olado, add eu ae, estudei com você na sexta série”. Olavo respondia “não”. Criava comunidades, e não deixava ninguém participar delas. Tinha um jeito Ivan Drago de levar a vida. E sim, era chato, não negarei. Ele talvez negasse só para acabar com minha graça, ou, estragar meu prazer.

Digo talvez negasse porque Olavo morreu. Aliás, quando percebeu que ia morrer, Olavo se desfez de todos os seus documentos e deitou na rua. Para morrer sozinho e ser enterrado como indigente. Para que ninguém pudesse ir chorar ou sorrir em seu velório.

Quando alguém descobriu que ele morreu, postou seu perfil na comunidade “profiles de pessoas mortas”. E eis, que sabe-se lá como, Olavo postou por lá, apenas para falar que não, ele não havia morrido. E ninguém nunca mais o viu.

Comentários

Gressana disse…
Ele deve ter sido o melhor amigo de Alfredo Chagas. Ou melhor, não, porque nem ele nem Alfredo Chagas têm amigo algum.
Thiago Borges disse…
Que merda a vida desse cara, acho que ele é capaz de estragar o prazer até do Hanz.