A formatura

Todos nós sabemos que os norte-americanos têm apenas um grande objetivo na vida. Eles nascem, crescem e tudo mais pensando em apenas uma única coisa: o baile de formatura. São 20 anos da sua vida se preocupando com esse momento. Não se pode fracassar em um baile de formatura. Pesquisas indicam que aqueles que foram ao baile sozinhos não conseguiram empregos, não conseguiram se casar, são desgraçados pela família e morrem sozinhos em um leito frio.

No Brasil a situação não é tão dramática assim. Muitas pessoas não irão se formar, então tem mais com o que se preocupar. Mas, pela influência da cultura estadunidense, algumas pessoas estudam para passar no vestibular com um único objetivo: participar de um baile de formatura. Porque vocês acham que tantas pessoas tentam passar para medicina? Porque este é o baile com mais prestígio.

Os bailes estão ficando cada vez mais chiques. Elton John, por exemplo, veio ao Brasil apenas para tocar em uma festa de formatura de uma turma de uma universidade particular de medicina em São Paulo. As formaturas de hoje tem iluminação melhor do que estádios de futebol, sistemas de som que fazem inveja ao U2 e aos Rolling Stones.

Pra quem ainda não se formou, há a alternativa de ser convidado para participar de bailes de outras pessoas. Nessa época de começo de ano, existe uma espécie de circuito de formaturas. Você verá na atualização do Orkut de algumas amigas suas, fotos de diversos bailes de formatura. Eu fui em uns três juntando minha vida toda. Não sei aonde essas pessoas tem tantos amigos e parentes, de tal forma que elas participam de oito, nove bailes num período de dois meses.

E o que é ainda mais curioso nas fotos de formatura é o uso que as pessoas fazem de óculos cor de rosa, guirlandas natalinas, antenas fosforescentes e buzinas ensurdecedoras. Sabe-se lá porque. Se eu fosse eleito presidente, criaria uma lei proibindo o uso desses apetrechos nefastos.

De qualquer forma, a formatura será marcante para o aluno formando por um momento especial: o momento da entrada. Será anunciado que você vai entrar, vai tocar uma música e tal. O normal é você entrar, acenar pra alguém que você ache que mereça ser acenado e ir até o lugar onde você tem que ir.

Só que, na sociedade do espetáculo, você não pode apenas entrar normalmente. É preciso que você faça uma performance. Que você dance, sapateie, jogue capoeira, plante bananeira, grite, rebole, tente morder o próprio toba ou faça um strip tease. Ou então, tudo isso ao mesmo tempo. Sua entrada será comentada por toda a eternidade.
- Ah, a entrada da Fernanda foi muito engraçada hahahahaa. Ela entrou com o namorado igual aquela cena do Titanic, só que tocando Vou deixar do Skank¹ no fundo, hahahahah.
Ou então:
“A entrada do Guilherme foi muito sem graça. Ele nem fez nada... ahhh semgraceira”.

É a pressão social sobre os formandos.

¹ Vou deixar do Skank, música que junto com “We Are The Champions”, “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”, “Beber cair e vomitar”, e mais algumas, estão num seleto grupo escolhido por 38% da humanidade para este momento.

Comentários

Gressana disse…
Sim, as formaturas também são um caso nefasto, por assim dizer.
Eu fui em duas durante minha vida inteira, a minha própria será a terceira.
Também ficarei marcado por ter a entrada mais sem graça de todos, me recuso a fazer macaquices.
E ah, quero até ver dessa vez quem que vai entrar com "I will survive". Sempre tem.
Thiago Borges disse…
A entrada da minha prima na formatura dela teve entrada performática, até hoje rende comentários