Sobre o atendimento nos bancos

Era o fim de uma ensolarada tarde cuiabana. Estava em uma sala acertando alguns detalhes para o recebimento de certa quantia em dinheiro. Meu interlocutor disse que eu só precisaria levar Xerox de todos os meus documentos, e o número da minha conta em determinado banco.

Ninguém dúvida que dinheiro é bom. Pode até não comprar a felicidade, mas, ajuda bastante. O problema é que os bancos, ao contrário, não trazem felicidade alguma. De acordo com a revista SuperInteressante, os funcionários de bancos são os empregados mais felizes do mundo. Pena que as pessoas que são atendidas por eles, não compartilham dessa felicidade.

Os bancos podem te ligar varias vezes aos dias oferecendo as melhores oportunidades para te endividar. “Cartão de crédito internacional”, “empréstimos”, “seguros”. Normalmente a melhor saída é lançar respostas de cunho religioso. “Meu único crédito é com deus”. “Não preciso de seguro, o senhor Jesus todo poderoso já me segura”.

No entanto, não há como usar esse artifício na ocasião em que você é quem procura os bancos. Dirigi-me a uma agência do banco para fazer a minha conta. O local estava um inferno. Pessoas eram travadas pela porta giratória. Peguei minha senha de número 189. Logo em seguida o painel chamou a senha 123. Restavam meras 66 pessoas na minha frente.

Três atendentes se revezavam para atender a massa desesperada pelos seus serviços. Claro que não tinham 66 pessoas na minha frente, porque muitas já haviam desistido. Foram apenas umas 43. Com o requinte de crueldade, de que na hora em que eu seria chamado, um grupo de idosos chegou à agência. Após duas horas e meia, finalmente estava à mesa da vitória. A bateria do meu mp4 estava quase acabando.

Fui atendido ai sim, na maior tranqüilidade. Fui avisado do prazo para voltar à agência e retirar meu cartão, sorridente, como em propagandas de bancos. Voltei após o prazo determinado. Para a minha surpresa de que o cartão não estava lá. Falaram-me então que eu teria o cartão entregue na minha casa.

Esperei alegremente o meu cartão. A campainha tocava, e o carteiro trazia livros. A campainha tocava, e era o cara trazendo garrafão de água. Esperei por um mês. Suspeitei que algo estava errado.

Pior do que ir ao banco é ter que ligar para ao banco. Existe essa lei de que a pessoa não pode esperar mais do que um minuto. Que qualquer atendente pode resolver qualquer problema. Mentira. Liguei para o número indicado. Esperei cinco minutos, e ninguém me atendeu. Liguei para outro 0800. A mulher mandou eu ligar no número em que ninguém me atendeu.

Fui atendido e a ligação caiu. Liguei novamente, e finalmente estabelecia uma conversa, na qual fui informado que a minha solicitação (saber onde meu cartão estava) deveria ser feita em outro número do menu inicial. Que dizia “cartão de crédito”. “Mas eu não quero cartão de crédito!”. Não importa. Mas, para minha segurança, minha conversa seria gravada.

Entrei em contato com o setor de cartões. Fui informado de que as linhas estavam ocupadas, e de que o tempo de espera era de cinco minutos. Durante esse tempo, fiquei escutando aquela voz robótica suplicando por ajuda para as vítimas da tragédia em Santa Catarina.

Finalmente uma voz veio. Depois de alguma dificuldade, a pessoa entendeu o que eu queria. Falou para eu esperar um segundo. Escutei seus dedos batendo no teclado. E quando a pessoa ia finalmente me informar o que eu queria... a ligação caiu.

Repeti o processo novamente, fui atendido novamente, expliquei e escutei o barulho do teclado. A voz veio então, pedindo para que eu confirmasse algumas coisas. Nome dos meus pais, meus telefones, nome de todos os presidentes norte-americanos. Soube então que meu cartão já estava na agência, fazia uns 15 dias.

Resolvi então fazer uma reclamação na ouvidoria. A mulher que me atendeu demorou uns 20 minutos pra registrar corretamente a minha reclamação. Pensei em fazer outra, de que a ouvidoria não entende o que os usuários querem.

E eis então, que finalmente recolhi meu cartão. Às 11 da manhã de um ensolarado dia cuiabano. E me livrei do banco, até sabe se lá quando.

Comentários

Gressana disse…
Cara, só metade do que você passou já é mais do que o suficiente para desencadear um Dia de Fúria.
Essa lei de um minuto de espera é uma puta piada de mau gosto. Experimentem ligar pra Brasil Telecom e vocês vão ver o que é ficar 20 minutos ouvindo aquela musiquinha chata.
Thiago Borges disse…
Dizem que o inferno é um lugar repleto de bancos, Detrans, MTUs e escritórios da Receita Federal. E no inferno a única forma de comunicação é o telemarketing.
Mr. Durden disse…
Atendentes de telemarketing são robos com sentimentos humanos que entram em pane quando você pergunta algo que não estão programados para responder, dessa forma, indicam uma sequência de números randômicos para que a pessoa ligue e não seja atendida, tempo que os técnicos conseguem ajustar/alinhar novamente os processadores e eles atenderem o próximo cliente.