A busca por Pai Jorginho de Ogum – Parte IV

O demônio e o café.

Na divisa entre Minas Gerais e o Espírito Santo. Ao lado do Parque Nacional do Caparaó. Parque no qual fica o Pico da Bandeira, terceiro ponto mais alto do Brasil. Menos de 5 mil habitantes. Essas eram as informações sobre a cidade do Alto Caparaó. Não deveria ser muito difícil achar Jorginho de Ogum lá. Mas, se ele não estivesse lá, eu desistiria. Não seria tão difícil substituí-lo. O mundo deve estar cheio de pais-de-santo, advogados, videntes, cafetões e ex-centroavantes do Flamengo. Bem, na verdade seria muito difícil.

“Esse Pai Jorginho é foda” comentei com o Cão Leproso, enquanto eu dirigia o carro. Fiquei esperando por um resposta positiva. Mas não ouvi nada. Prossegui: “Acho que ele mereceria uma surra, quando nós o encontrássemos”. Olhei para o Cão, na expectativa de que ele concordasse, ou fizesse que sim com a cabeça. Mas, ele olhou para mim com a mesma cara de sempre e não disse nada. É, era melhor continuar apenas dirigindo.

Pensei na situação em que eu estava. Dentro de um Gurgel, ao lado de um cachorro sem braços e procurando um pai-de-santo desaparecido. Vi uma placa anunciando um candidato a vereador “Jorginho do BANERJ”. Passei por um bar chamado “Bar do Jorginho”. Os Jorginhos estavam dominando o mundo. Ou pelo menos aquela região. Será que Jorginho de Ogum foi participar da revolução dos Jorginhos? E o pior, é que tanto o Jorginho candidato, quanto o Jorginho dono de bar, tinham traços físicos parecidos com o Jorginho de Ogum. Talvez, todos os Jorginhos do mundo tivessem um gene que os faziam ser semelhantes. Talvez fosse uma dinastia, uma sociedade secreta. Não sei.

Depois de algumas horas de viagem, chegamos ao município de Além Paraíba. Uma cidade esquisita. Oficialmente ela fica em Minas Gerais, mas, do outro lado do rio que a divide, no Rio de Janeiro, tudo tem o endereço de Além Paraíba. Uma cidade bi estadual.

Parei para ir ao banheiro. Estava lavando as mãos quando escutei a porta do sanitário abrindo e alguém falando “seu porco renascentista”. “Puta merda” pensei. Era Alfredo Chagas novamente. Que inferno, que encosto. Como esse filho da puta foi parar em Além Paraíba em um banheiro de posto de gasolina naquele exato momento? Ele não me respondeu. E nem era preciso, eu já sabia que as horas de terror estavam de volta.

O inferno estava novamente estabelecido dentro do carro. Estatísticas provavelmente diriam que 1/3 dos acidentes do Brasil são causadas por Alfredo Chagas. A pista tinha um buraco gigante. Aliás, não era um buraco. A pista tinha simplesmente desmanchado até a metade. Um pouco mais a frente uma placa continha a pichação “Fora Sarney”. Percebi que fazia um bom tempo que as placas não eram trocadas.

Leopoldina, Muriaé, Miradouro, Fervedouro, Carangola, Espera Feliz. Parecia que nós nunca chegaríamos até Alto Caparaó. Existia uma barreira de cidades pequenas, infestadas de carros cheios de adesivos eleitorais. Um exército de cabos eleitorais do Tião do Posto Oito, da Maria da Padaria, do seu Joca da Pipoca.

Já nem sabia mais que dia era, quando chegamos a um lugar, que era uma plantação de café gigante. Todas as montanhas estavam entulhadas de pés de cafés. O difícil era imaginar o trabalho para conseguir plantar e colher café no topo da montanha. Este lugar inundado de cafeína era o Alto Caparaó.

A cidade em si, é uma ladeira. Sim, UMA ladeira. Cheia de mercearias e Igrejas. Tínhamos a quarta igreja presbiteriana de Alto Caparaó, a igreja universal, do sétimo dia, e a Batista, que era um grande complexo. Praticamente um Shopping Center da fé. Três prédios ligados por passarelas e tudo mais.

Fora isso, um carro fazia propaganda do Zezinho, e de sua vice, Delvira da saúde. Sem brincadeira. O Pior Jingle político que eu já escutei em minha vida. Uma mistura de música de macumba com Bruno & Marrone. A música era horrível, mas não para Alfredo Chagas. Ele gostou da canção, tanto que colocou a cabeça para fora do carro e começou a gritar palavras de ordem.

Tinha duas coisas a fazer. Achar um hotel e depois achar Pai Jorginho de Ogum.

Comentários

Gressana disse…
Guilherme praticamente deu o sangue pelo futuro desse blog. Agüentar Alfredo Chagas numa viagem dessa é trabalho de hércules.
Thiago Borges disse…
A vida de um jornalista blogueiro realmente não é nada fácil