O garoto Fabinho.

Essa é a história do garoto Fábio Soares Filho, mais conhecido como Fabinho.
A infância de Fabinho nunca foi um sonho, como a maioria de nós enxergamos essa fase de nossa vida. Não que Fabinho tivesse qualquer deficiência mental ou física, pelo contrário. Ele é um garoto saudável, que hoje, na tenra idade de 8 anos, tenta agüentar todas as pressões exercidas pela crueldade de seus pais, colegas e professores.
Fabinho nasceu e mora na cidade de Primavera do Leste, interior do Mato Grosso. Estudiosos do ramo da pedagogia classificam essa cidade como a capital nacional do bullying. Fabinho conhece essa realidade muito bem. Estudante de colégio particular, sempre sofreu constantes humilhações. Começou no maternal, certa vez um de seus coleguinhas, durante uma atividade que envolvia dobraduras, começou a fazer cócegas no pobre garoto. Fabinho pedia para ele parar, porque estava rindo tanto que estava prestes a urinar nas calças. O garoto não parou. Fabinho molhou as calças. A professora, que era tratada por seus alunos como "tia", vendo aquilo, afastou os dois e deu uma bronca em Fabinho, que havia emporcalhado o chão com urina:
-Fabinho, olha o que você fez!!!
-Mas tia, o Dudu me fez cosquinha...
-Olha só, olha a merda que você fez no chão, meu Deus, Fabinho!
-Eu pedi pra ele parar, tia...
-Agora você vai ter que limpar tudo!
-Mas eu...
-Não tem desculpa, Fabinho. De castigo, vai limpar com seu uniforme, e depois vai lamber o chão onde você mijou!
-Não, tia, eu...
-Já, Fabinho. Enquanto isso, turma, vamos todos ficar olhando o Fabinho limpar o chão. Menino feio.

Fabinho fez o que foi mandado. Limpou o chão com seu uniforme e depois teve que lamber o local.
Se as coisas mudaram com o passar dos anos, foi pra pior. No jardim de infância, a professora havia passado uma atividade de desenhar e colorir para a classe. Fabinho, tendo terminado seu desenho, mostrou-o para a professora:
-Olha só, tia, terminei!
-Fabinho... Seu desenho está horrível.
-Ãh?
-É, Fabinho... Olha só pra isso. Está uma merda.
-Mas...
-Dê-me. Crianças, vejam só o desenho do Fabinho. Vejam que lixo. Não façam nada parecido. O Fabinho nunca poderá ser um desenhista. Agora, vamos todos apontar pra ele e rir dele.

Passado o terror do pré-primário, Fabinho viu que as coisas eram as mesmas no primário. Na segunda série, por exemplo, a professora pedia para que as crianças recitassem poemas na frente da classe. Normalmente elas recebiam poemas infantis de Vinícius de Moraes. Fabinho recebeu um poema do poeta parnasiano Goulart de Andrade. Como não entendia metade do que estava escrito e lia devagar, a professora disse:
-Fabinho, por favor... Será que você não aprendeu a ler ainda? Como é possível?
-Não, fessora, é que...
-Seus colegas leram tão bem. E você não consegue.
-É que esse é difícil...
-Não, Fabinho. Se eu consigo ler você também consegue. Não tem desculpa. Você é burro, Fabinho. Muito burro.
-Uhhh...
-Vai chorar, Fabinho? Que nem mariquinha? Tsc, tsc... Fabinho, como castigo, você terá que ficar nu aqui na frente da turma toda. E todos nós agora vamos atirar objetos no Fabinho.

As coisas não eram diferentes em casa. Seus pais não tinham compaixão. Como no caso em que sua família foi ao clube, e o pai de Fabinho estava filmando um salto de mergulho que o filho estava prestes a dar. Infelizmente Fabinho calculou mal a distância e pulou muito antes da água, atingindo o chão. O pai de Fabinho ficou furioso:
-Meu filho, como pode ser tão burro? Olha a merda que você fez! O que os outros pais vão pensar de mim? Seu bosta... Moleque de merda!
Na volta pra casa, os pais de Fabinho vestiram-no com um vestidinho de menina e prenderam uma fitinha rosa em seus cabelos. Levaram ele pra passear desse jeito.

Enfim, nunca esqueçam do menino Fabinho e de seu exemplo de como a infância pode ser uma fase cruel em nossas vidas. Fabinho tem 8 anos.

Comentários

Guilherme disse…
meu deus, nunca vi nada tão cruel na minha vida. Pobre menino Fabinho... ainda hoje em dia podemos ver ele andando com roupas de balé no centro de Primavera do Leste.
Espero que eu não esteja na faculdade quando ele chegar lá.
Thiago Borges disse…
Esse Fabinho ainda vai metralhar a turma na sala de aula...com certeza