Eis uma atividade quase tão ruim quanto o jornalismo e não é a toa que muitos jornalistas exercem essa função. Só mesmo alguém que tenha passado pela faculdade de comunicação social poderia exercer tão cruel função. O crítico de cinema tem o trabalho de assistir vários filmes e dizer se gosta deles ou não. Para isso normalmente eles usam seus conhecimentos em linguagem cinematográfica, e os mais metidos fazem uso de todas as ciências humanas existentes para explicar os filmes que ele gosta.
Certo que nem sempre é isso o que acontece. Para se ser crítico de cinema não é preciso entender muita coisa de cinema, e às vezes não é preciso nem assistir nenhum filme. Basta seguir algumas regras para se tornar um crítico conceituado. Claro, você pode seguir o caminho de críticos Pop, que falam bem até de 300, por exemplo, mas ai, você não terá o reconhecimento, não poderá freqüentar as rodas de intelectuais com a cabeça erguida.
Primeiro, é de bom grado que você tenha feito algum curso na área de comunicação e artes. Se for na ECA da USP, melhor ainda. E ainda na sua formação, ajuda se você tiver feito um, talvez até dois filmes na carreira. Os filmes claro deverão ser chatíssimos e com uma fotografia absolutamente inovadora, que de dor de cabeça em quem tentar assistir. Descreva-o como “moderno demais”, “uma mistura de Cidadão Kane com Deus e o Diabo na Terra do Sol”. E claro, os filmes devem ter um nome fantástico como “Isolado na multidão” ou uma metáfora sem sentido, mas que pareça ser genial.
Claro que você pode criticar sem ser um cineasta fracassado, mas isso irá dificultar em muito sua reputação. Se você tiver feito o filme, na hora em que alguém ler uma crítica sua e outra pessoa perguntar “quem fez” poderá responder “é, um cara ai que fez um filme, Isolado na multidão, a história de um imigrante nordestino que vai para São Paulo, onde consegue algum dinheiro a base da prostituição, mas mesmo assim não se sente realizado. Um professor meu de cinema passou uma vez”.
Mas certo, vamos a parte das análises. Você deve criar um sistema de classificação. Pode ser à base de ovelhas, um anagrama do seu sobrenome, tanto faz. Mas, a título de exemplo, usaremos as estrelas. 0 estrelas para os ruins e 5 estrelas para os bons.
Então tá. Primeiro, todos os filmes feitos nos anos 2000 merecem 0 estrelas. 1 estrela para filmes dos anos 1990, 2 para os anos 1980, 3 para os anos 1970, 4 para os anos 1960 e 5 para qualquer filme feito antes e durante a década de 1950. Esta é a base inicial.
Filmes americanos nunca ganham estrelas a mais, a não ser que seja um filme americano que critique os costumes americanos. Em compensação, quanto mais longe o país do filme for dos EUA, mais estrelas ele ganhará. Um filme canadense ganha meia estrela, um brasileiro ganha uma. Um filme iraniano ganha mais 4. Procure pelo filme no google, menos resultados, mais estrelas. Se o filme estiver passando em mais de duas salas de cinema, comece a tirar estrelas. Se for um filme francês, búlgaro, esloveno, passando em mais de duas salas de cinema, ou, pior ainda, em uma sala de cinema convencional, detone-o. Dizendo algo como “a Croácia que sempre nos presenteia com belos filmes, dessa vez apresenta um filme convencional, uma clara tentativa de tentar fazer cinema americano nos Bálcãs”.
Veja a sinopse do filme e os atores que participam. A cada ator que você conheça o nome, retire meia estrela. Com essa fase prévia de avaliação, você já pode publicar suas análises. Mas, se você quiser, você pode realmente ver os filmes. Dará-lhe trabalho, poderá lhe dar mais análises e talvez mais reconhecimento, mas é muito mais arriscado. Você pode correr o risco de começar a entender do assunto.
Certo, você está lá para assistir o filme. Se o cinema for difícil de ser encontrado, o filme ganha mais estrelas. Quanto menos pessoas no cinema, mais estrelas para o filme. Se alguém rir em algum momento do filme, tire uma estrela. Se você rir, retire todas as estrelas. Cada vez que aparecer uma pessoa correndo, retire estrelas. Observe a fotografia. Se ela for exótica, merece cinco estrelas apenas por isso. Se o diretor usar apenas roxo e alaranjado, filmar apenas as orelhas das pessoas. Se o filme, por exemplo, tiver tons amarelados, e com excesso de iluminação, que chegue a doer os olhos, escreva algo como “O filme tanto esteticamente, quanto em seu conteúdo, impacta. O espectador sai do cinema nocauteado, como se tivesse levado um soco no fígado”. Aliás, lembre-se, o boxe é o único esporte que pode ser praticado impunemente nos filmes.
Observe as longas cenas de silêncio. Como, uma cena em close nos olhos do ator, durante 18 minutos, sem mostrar mais nada em volta. Se alguém dormir durante o filme, adicione estrelas. Se você dormir no filme, adicione cinco estrelas. Diga que é a cena mais reflexiva do cinema contemporâneo. Quanto mais flash backs, quanto mais cenas sem explicação, enfim, se você sair do cinema sem entender nada, o filme é ótimo. Mas é claro, alerte que talvez muitas pessoas não conseguirão entender o filme. Se o filme te der vontade de virar o rosto, de tão ultrajante, se você sentir vontade de vomitar, ou, consumar o ato, mais estrelas para o filme.
Bem, isso já é o suficiente para criticar um filme. Mas lembre-se de algumas outras coisas:
- Filmes com cenas de estupro são bons e chocantes.
- Filmes com cenas de um homem sendo estuprado são ainda melhores e ainda mais chocantes.
- Closes do toba, vulgo ânus, tornam um filme cult.
- Filmes brasileiros nunca serão melhores do que os argentinos.
- Filmes ganhadores do Oscar nunca serão realmente bons.
- Filmes ganhadores do Leão de Cannes, do Urso de Berlin, do Ornitorrinco prateado de Adelaide, são ótimos.
- Consumo de drogas tornam o filme realista.
- Armas só podem ser usadas para suicídios. Mas os suicídios devem ser de maneira mais dramática, cortando os pulsos.
Agora, você já está pronto para criar seu blog de críticas cinematográficas. E não se esqueça, dia 22 de fevereiro estréia Rambo IV.
Certo que nem sempre é isso o que acontece. Para se ser crítico de cinema não é preciso entender muita coisa de cinema, e às vezes não é preciso nem assistir nenhum filme. Basta seguir algumas regras para se tornar um crítico conceituado. Claro, você pode seguir o caminho de críticos Pop, que falam bem até de 300, por exemplo, mas ai, você não terá o reconhecimento, não poderá freqüentar as rodas de intelectuais com a cabeça erguida.
Primeiro, é de bom grado que você tenha feito algum curso na área de comunicação e artes. Se for na ECA da USP, melhor ainda. E ainda na sua formação, ajuda se você tiver feito um, talvez até dois filmes na carreira. Os filmes claro deverão ser chatíssimos e com uma fotografia absolutamente inovadora, que de dor de cabeça em quem tentar assistir. Descreva-o como “moderno demais”, “uma mistura de Cidadão Kane com Deus e o Diabo na Terra do Sol”. E claro, os filmes devem ter um nome fantástico como “Isolado na multidão” ou uma metáfora sem sentido, mas que pareça ser genial.
Claro que você pode criticar sem ser um cineasta fracassado, mas isso irá dificultar em muito sua reputação. Se você tiver feito o filme, na hora em que alguém ler uma crítica sua e outra pessoa perguntar “quem fez” poderá responder “é, um cara ai que fez um filme, Isolado na multidão, a história de um imigrante nordestino que vai para São Paulo, onde consegue algum dinheiro a base da prostituição, mas mesmo assim não se sente realizado. Um professor meu de cinema passou uma vez”.
Mas certo, vamos a parte das análises. Você deve criar um sistema de classificação. Pode ser à base de ovelhas, um anagrama do seu sobrenome, tanto faz. Mas, a título de exemplo, usaremos as estrelas. 0 estrelas para os ruins e 5 estrelas para os bons.
Então tá. Primeiro, todos os filmes feitos nos anos 2000 merecem 0 estrelas. 1 estrela para filmes dos anos 1990, 2 para os anos 1980, 3 para os anos 1970, 4 para os anos 1960 e 5 para qualquer filme feito antes e durante a década de 1950. Esta é a base inicial.
Filmes americanos nunca ganham estrelas a mais, a não ser que seja um filme americano que critique os costumes americanos. Em compensação, quanto mais longe o país do filme for dos EUA, mais estrelas ele ganhará. Um filme canadense ganha meia estrela, um brasileiro ganha uma. Um filme iraniano ganha mais 4. Procure pelo filme no google, menos resultados, mais estrelas. Se o filme estiver passando em mais de duas salas de cinema, comece a tirar estrelas. Se for um filme francês, búlgaro, esloveno, passando em mais de duas salas de cinema, ou, pior ainda, em uma sala de cinema convencional, detone-o. Dizendo algo como “a Croácia que sempre nos presenteia com belos filmes, dessa vez apresenta um filme convencional, uma clara tentativa de tentar fazer cinema americano nos Bálcãs”.
Veja a sinopse do filme e os atores que participam. A cada ator que você conheça o nome, retire meia estrela. Com essa fase prévia de avaliação, você já pode publicar suas análises. Mas, se você quiser, você pode realmente ver os filmes. Dará-lhe trabalho, poderá lhe dar mais análises e talvez mais reconhecimento, mas é muito mais arriscado. Você pode correr o risco de começar a entender do assunto.
Certo, você está lá para assistir o filme. Se o cinema for difícil de ser encontrado, o filme ganha mais estrelas. Quanto menos pessoas no cinema, mais estrelas para o filme. Se alguém rir em algum momento do filme, tire uma estrela. Se você rir, retire todas as estrelas. Cada vez que aparecer uma pessoa correndo, retire estrelas. Observe a fotografia. Se ela for exótica, merece cinco estrelas apenas por isso. Se o diretor usar apenas roxo e alaranjado, filmar apenas as orelhas das pessoas. Se o filme, por exemplo, tiver tons amarelados, e com excesso de iluminação, que chegue a doer os olhos, escreva algo como “O filme tanto esteticamente, quanto em seu conteúdo, impacta. O espectador sai do cinema nocauteado, como se tivesse levado um soco no fígado”. Aliás, lembre-se, o boxe é o único esporte que pode ser praticado impunemente nos filmes.
Observe as longas cenas de silêncio. Como, uma cena em close nos olhos do ator, durante 18 minutos, sem mostrar mais nada em volta. Se alguém dormir durante o filme, adicione estrelas. Se você dormir no filme, adicione cinco estrelas. Diga que é a cena mais reflexiva do cinema contemporâneo. Quanto mais flash backs, quanto mais cenas sem explicação, enfim, se você sair do cinema sem entender nada, o filme é ótimo. Mas é claro, alerte que talvez muitas pessoas não conseguirão entender o filme. Se o filme te der vontade de virar o rosto, de tão ultrajante, se você sentir vontade de vomitar, ou, consumar o ato, mais estrelas para o filme.
Bem, isso já é o suficiente para criticar um filme. Mas lembre-se de algumas outras coisas:
- Filmes com cenas de estupro são bons e chocantes.
- Filmes com cenas de um homem sendo estuprado são ainda melhores e ainda mais chocantes.
- Closes do toba, vulgo ânus, tornam um filme cult.
- Filmes brasileiros nunca serão melhores do que os argentinos.
- Filmes ganhadores do Oscar nunca serão realmente bons.
- Filmes ganhadores do Leão de Cannes, do Urso de Berlin, do Ornitorrinco prateado de Adelaide, são ótimos.
- Consumo de drogas tornam o filme realista.
- Armas só podem ser usadas para suicídios. Mas os suicídios devem ser de maneira mais dramática, cortando os pulsos.
Agora, você já está pronto para criar seu blog de críticas cinematográficas. E não se esqueça, dia 22 de fevereiro estréia Rambo IV.
Comentários
Eu vou estar na primeira fila para Rambo IV
Amém!
Quanto à estréia de rambo, prefiro não comentar.
Se superou, aí, hein Guilherme!o/Fiquei de cara. Você podia acrescentar alguma coisa sobre os filmes em que a Livinha chora. Você acha que dá pra tirar todas as estrelas de uma vez?
(é mentira, tá, livinha?)
Trabalho de critico não é brincadeira, tampouco alguma função que se baseie em velhos clichês e costumes preguiçosos. No inicio até se deu bem, mas daí em diante transformou o texto numa piada sem graça e sem tamanho. Você é até bem humorado, mas não entende nada de ser critico de cinema, meu amigo.
boa sorte
Não, não sou nada cult.
Sim, eu adoro cinema pop.
É como diz Luli Radfahrer, quem gosta só do velho é um idiota por que nega a evolução do pensamento e as novas idéias, e quem gosta só do novo é um idiota por que ignora o legado de gerações.
Brigadão, aguardo sua resposta.
http://xandrelima.blogspot.com
E não é que tenho um blog de críticas de cinema?
Mas eu não sou esses críticos chatos e arrogantes não...Eu procuro ver todo tipo de filme, desde "E o vento levou..." até "todo mundo em pânico"
dá uma olhada lá.
Até hoje morro de rir com esse texto. Mas já nem sei se o mais engraçado é o texto ou os comentários anônimos...
No mais, com o tempo, o post ficou muito melhor com os comentários dos super experts, que digitam "como ser crítico de cinema no google" e vem aqui ensinar o que é certo e o que é errado.
E, o último anônimo devia se esforçar mais, para superar a qualidade do comentário do primeiro anônimo "trabalho de crítico de cinema não é uma função que se baseie em velhos clichês e costumes preguiçosos".
pra ser critico é necessário ser viado. tem gente que é medico, engenheiro, agricultor e inventaram um negocio chamado critico de cinema? ahh vao dar a bunda.
Eu já vi esse post em outro site, sorte deles que não havia como comentar.
Crítico não é uma profissão fácil, principalmente por causa de comentários como o anônimo4 e Mestre Zen. Filme não é algo apenas para ser apreciado e sim para ser analisado. Crítico é uma profissão como qualquer outra.
Fazer filme, hoje em dia, se tornou algo tão trivial como comer uma banana. Qualquer um que consegue comprar uma câmera, crackear alguns programas de edição de vídeo e tiver amigos consegue se tornar um diretor.
Se forem reclamar de como o blog insultou a profissão, não reclamem aqui. É apenas um blog de comédia, seu comentário vai virar piada.